terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Outras mulheres

Dentre as muitas antologias de contos que organizei, existe uma pela qual nutro um singular carinho. Trata-se de O livro das mulheres, que lancei na Feira do Livro de Porto Alegre, em 1999.

Hoje, é objeto raro.

Pouco se fala, em teoria da literatura, do olhar do organizador. No limite, o organizador define, em seu recorte, aquilo que ele julga o melhor de uma determinada época. Claro que esse recorte é parcial, ideológico, subjetivo e sujeito a pressões de todos os tipos, internas e externas. Por que estas autoras e não outras? Por que estes contos e não outros?

Do mirante teórico em que me encontrava, julguei que mereciam fazer parte da minha antologia escritoras que surgiam no Rio Grande do Sul nas décadas de 80 e 90, algumas egressas das minhas próprias oficinas, outras das oficinas de Assis Brasil, entre as quais Letícia Wierchowski, Cintia Moscovith, Adriana Lunardi, Cláudia Tages, Paula Tautelbaum, Martha Medeiros, Lízia Pessin Adam, Vera Karan e outras. Escolhi 13, porque o número 13, naqueles tempos, era um símbolo forte.

A história mostrou que não me enganei, as autoras daquela humilde antologia hoje são as grandes damas da literatura gaúcha.

Postei em http://fortunacriticadecharleskiefer.blogspot.com/ duas resenhas que saíram na imprensa, à época do lançamento. Se alguém tiver curiosidade sobre o que se disse então, basta clicar duas vezes sobre o link.

E agora, passados 11 anos, vou lançar a segunda antologia com contos femininos. Vai se chamar Outras mulheres. E volto a apostar que o futuro me dará razão. Por enquanto, os nomes das novas grandes damas da literatura do Sul ainda é um segredo. (Nem tanto, que na era da informação instantânea, os nomes das “outras mulheres” já estão circulando. Adianto que, desta vez, eu as escolhi a partir de um concurso literário. Hoje, são tantas as boas narradoras nesta terra meridional que foi preciso mudar o método de escolha. Participaram do concurso mais de 80 escritoras).

Assim, no dia 08 de março de 2010, quando a Editora Dublinense lançar o livro, os jornais e revistas falarão daquelas que na próxima década estarão fazendo sucesso como cronistas, contistas, romancistas. Escolhemos esta data, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, por nos parecer o dia mais adequado para o lançamento de uma obra escrita somente por mulheres. A sensação que tenho é que, num futuro não muito distante, os leitores disputarão Outras mulheres nas livrarias-sebos como hoje disputam O livro das mulheres.

Como se pode ver, não penso que o livro de papel, brochura de variados tamanhos, vá desaparecer por causa dos e-readers. Ele vai se fetichizar, vai se tornar objeto de culto. Poucos o terão e valerá muito. Alguém aí poderia me informar quanto custa, no mercado de obras raras e objetos antigos, um rolo de papiro?

Também nesta nova antologia estou abrindo mão dos direitos autorais de organizador. O gesto simboliza, apenas, que as faço por absoluta paixão. E para aumentar a pontuação no currículo Lattes, dirão os maldosos. Absolutamente não, pois já fui excluído do corpo de professores do mestrado em Escrita Criativa da PUC por falta de pontuação. Não tenho publicado mais ensaios acadêmicos em livros e revistas, não vou a Seminários e Congressos, participo de poucas bancas de mestrado e doutorado. Enfim, faço uma não-carreira acadêmica.

Se outros se jactam do que escreveram, eu me jacto do que escrevem os meus alunos e alunas.

3 comentários:

  1. Que suas palavras sejam NOVAMENTE proféticas, Charles!
    Leila de Souza Teixeira, nasceu em Passo Fundo em 1979, frequenta as Oficinas Charles Kiefer desde 2005, venceu os concursos "Osman Lins" e "Mário Quintana-SINTRAJUFE" em 2006, participou do fênomeno literário "Inventário das Delicadezas" em 2007-2008.
    Conheça a história do "Inventário das Delicadezas" (livro sem editora que esgotou em menos de um ano, por causa da qualidade dos textos e da estratégica de marketing), no blog
    http://inventariodasdelicadezas.wordpress.com/

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  2. á foi dito quase tudo sobre o texto de Faraco, uma preciosidade, uma narrativa brilhante, enxuto e exato como um conto deve ser. Por coincidência, caiu-me nas mãos, logo após a leitura no blogue, uma antologia dos 35 melhores contos do RS organizado por Maria da G. Bordini e datado de 2003.
    Contribuem 28 autores gaúchos, sendo que 07 destes aparecem com 02 contos. São eles Simões Lopes Neto, Caio Fernando Abreu, Moacyr Sclyar, Luiz Fernando Veríssimo e claro, FARACO com “Noite de matar um homem” e “A touca de bolinha”. Nosso amigo Kiefer está representado com “Medo”.

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  3. Caro Professor,

    e conheces o "Contos do Novo Milênio", do mesmo IEL?

    Pois nesta antologia, incluí os bons autores que surgiram no RS após 1980 (até 2000).

    Minha amiga e ex-professora Maria da Gloria Bordini fez um recorte que ia de Simões Lopes Neto até os anos 80.

    Parti do trabalho dela e fiz a antologia de 1980 a 2000.

    Vale a pena ler o segundo livro também.

    Abraço,

    Charles Kiefer

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