domingo, 3 de janeiro de 2010

Para sair da merda, presidente!

Passei a virada no Uruguai, em companhia de Marta, Sofia, Guido, Cynara, Reginaldo, Jajá, Pena Cabreira, Sandra, e amigos do Pujol, e filhos e genro do Guido.

Muito eu teria para contar sobre a viagem (viajar é trocar a alma de casa, a gente só começa a viajar de verdade quando retorna), mas quero apenas estabelecer uma diferença entre o Brasil e o Uruguai.

Em La Paloma, um minúsculo balneário, visitei 4 boas livrarias (duas delas com mais de dez mil títulos em exposição). Comprei livros de Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, Mempo Giardinelli, Isaac Bashevis Singer, Guillermo Martínez, antologias de contos, fotobiografias e outros.

O Brasil inteiro deve ter em torno de 1.000 livrarias, talvez menos. Certamente o Uruguai tem mais. Se um vilarejo tem 4 livrarias, quanto terá o país todo?

Só para provocar: Paris tem mais de 2.400 livrarias...

Em todas as áreas o Brasil explode: cresce a classe média, mais de 40 milhões de pessoas abandonam a linha de pobreza, as vendas de automóveis e eletrodomésticos ampliam-se enormemente, estamos emprestando dinheiro ao FMI, seremos em breve a quarta economia do planeta, e, enquanto isso, a Feira do Livro de Porto Alegre despenca 18,5% (a área adulta caiu 16% e a área infantil 21%) em 2009.

Que fantástico serviço à cultura (e cultura é a mais poderosa arma civilizadora) faria o Lula se aparecesse em público com um livro nas mãos e dissesse:

– Para sair da merda é preciso ler mais! Desde ontem, sou um leitor e conclamo os 80% de brasileiros que aprovam o meu jeito de governar a fazerem o mesmo!

Se o presidente der esse exemplo, prometo que não me mudarei para o Uruguai!

14 comentários:

  1. Tenho a certeza que o Lula deveria mudar para o Uruguai. Charles, cm vc quer que ele seja leitor e conclamar os 80% de brasileiros que aprovam seu governo a realizar o mesmo, se os interesses são comuns, nada de leitura, conhecimento e busca de dados, somente cestas básicas entre outros benefícios, não para eu e minha família( de brinde poderia ser incluído um livro). Que utopia!
    2010 com sabedoria e Fé!
    Eunísia

    ResponderExcluir
  2. Anônimo3/1/10 10:24

    Tomara que o Brasil NÃO se torne a quarta economia. Se isso acontecer, aí é que a cultura não receberá incentivo. Aí o pensamento será o seguinte:

    "Para que ler, nosso país é gigantesco e tem apenas umas 1000 livrarias, e veja a nossa economia."

    Que Deus nos proteja(!)

    ResponderExcluir
  3. Charles, se as pessoas lessem mais, elas saberiam pensar por si próprias, e seriam mais críticas com relação a si mesmas e ao país, e isso certamente não estaria a serviço dos nossos governantes, cujo interesse restringe-se a ajudar a si mesmo e aos seus.

    Imagina se as pessoas realmente fossem estudar economia e fossem estudar a realidade do Brasil? Será que estaria todo mundo comemorando mesmo? Será que a situação das escolas, das universidades, com esse enem e tudo o mais seria celebrado?

    Duvido.

    Bjs
    Cris

    ResponderExcluir
  4. Pois então, La Pedrera é bem menorzinha e tem livraria boa...

    ResponderExcluir
  5. Charles,

    Na minha última visita à Montevidéu fiz uma visita à Feira do Livro de Montevidéu, e às livrarias da 18 de Julio. Busquei essencialmente autores uruguaios, pois é imperdoável esse desconhecimento que temos da nova geração de autores celestes. Fiquei impressionado com a quantidade de novos autores existentes no Uruguai. Um uma das livrarias que cheguei, pedi por autores nacionais, e o dono da livraria me apontou para uma prateleira com mais de dois metros de altura, abarrotada de livros. Todos eles de autores uruguaios, premiados e lidos.

    E nós aqui, chupando o dedo.

    ResponderExcluir
  6. La Paloma não apenas é pequena mas é também praia de surfista: as melhores ondas do Uruguai.
    Assim, para ter livrarias, precisou romper com dois preconceitos: o de praia pequena e o de praia jovem.
    Me engajo na tua luta por mais livros embora, como sabes bem, já tenha me mudado para o Uruguai. Bj

    ResponderExcluir
  7. Charles, meu amigo.

    Então leia isto, já:
    http://miltonribeiro.opsblog.org/2010/01/04/queremos-um-uruguai-cheio-de-engenheiros-filosofos-e-artistas/

    Grande abraço.

    ResponderExcluir
  8. Charles, texto oportuno e inspirado, parabéns.
    Abraço de Pena Cabreira e Sandra Kaplan.

    ResponderExcluir
  9. Charles,

    Já pode ir comprando a sua passagem só de ida. O Lula, esta lastima humana a serviço da Falácia, jamais fará coisa parecida. Ele gosta mesmo é de mostrar que é popular, apoiando o que há de pior, de mais execrável na cultura das massas. Só Deus nos ajudando!
    Saudades do FHC...

    Cesar
    de Sampa

    ResponderExcluir
  10. Charles, não sou propriamente um defensor do Lula, mas vou fazer as vezes.
    Concordo que se ele usasse sua enorme popularidade para ajudar a sermos um país de leitores ajudaria.
    Mas lembremos "mesmo nossas elites não são compostas por leitores", como afirmou Pedro Bandeira (que já vendeu mais de 20 milhões de livros) e temos poucas livrarias (cerca de 2700 segundo a ANL, quando o razoável seriam 4900 segundo a mesma associaçao nacional de livrarias).
    Cito dois programas do governo, bons para a leitura no Brasil:
    - o vale cultura de R$50,00 que ainda esta em implantação (funciona como o vale-transporte) para os trabalhadores com carteira assinada;
    - o programa nacional do livro e da leitura, aprovado pelo congresso e que, com isso, torna-se uma politica de estado e nao de governo, programa implantado em conjunto pelo MEC e Ministério da Cultura - o que por si só já é um avanço.
    Bom, com isso podemos comparar Lula com a ilustradíssima governadora do RS que há dois anos mantém as bibliotecas das escolas estaduais fechadas por falta de professores, com os novos e excelentes livros de literatura que estão sendo repassados pelo governo federal, dois deles, de Will Eisner, inclusive, foram censurados.

    ResponderExcluir
  11. Muito bom!
    E temos também lugares como Buenos Aires, onde as livrarias são inclusive pontos turísticos.

    ResponderExcluir
  12. Lula disse uma vez que não lia porque lhe dava sono. Não esperava mais dele, como não espero mais da enorme maioria da sociedade que ele legitimamente representa. O Brasil é o país da telenovela, do menor esforço intelectual, do bocejo diante da complexidade - em todas as classes.

    ResponderExcluir
  13. Penso que nossas justas críticas não se dirigem apenas ao presidente Lula, afinal sob este aspecto não é surpresa. Mas, continuando, será que nas nossas casas, na intimidade das nossas famílias, as crianças são incentivadas à prática salutar da leitura? No afã consumista e no corre-corre da vida as pessos lêem? os pais são exemplo para os filhos? , quantos pais deram livros de presente de natal aos seus filhos? infelizmente a questão é mais ampla e aponta para o barbarismo da nossa cultura pós-moderna que na maioria das vezes se contenta com futilidades ou best-sellers idiotas que não exigem pensamento e reflexão. Maravilhoso que persistam ilhas como Montevideo e Buenos Aires. Paulo Seixas

    ResponderExcluir
  14. Anônimo5/1/10 12:20

    Hola a todos, a Charles en especial.

    Comparto algo con ustedes, mientras miro por la ventana de mi apto que queda en el centro de Montevideo...tengo muchas librerías cerca, es verdad. Soy amiga por facebook de una que me avisa de los autores que me gustan y cuando hacen descuentos.

    Cuando era niña me regalaron muchos libros. Mis abuelos eran de aquellos que mandaban fabricar sus muebles según el tamaño de sus enciclopedias y colecciones completas (como la de Balzac con tapa de cuero y letras doradas).

    Sin embargo en el primer encuentro de la Oficina de Charles (2002) le confesé que no me gustaba leer....creo que el gusto por la lectura lo empecé tarde. Tal vez cuando me di cuenta (gracias al cine, o la TV o incluso las idiotas telenovelas) qué magnífico resultaba el mundo de la ficción, contar historias, hacer de cuenta, mentir.

    La enfermedad que pesqué fue la CURIOSIDAD (que es un poco lo que motiva la cultura) y fui atrás de los libros. Curiosidad es lo que nos hace entrar en el museo aunque no sepamos quién es el que expone. Es el que nos hace conversar largo y tendido con el artesano que hizo esa lámpara para saber cómo la hizo y qué materiales usó. Es bajar a la rambla para ver tocar ese grupo del que nadie sabe mucho porque tal vez valgan la pena sus músicas.

    Es reparar, abrir más los ojos, escuchar mejor.

    Puedo mirar las peores telenovelas y leer al mismo tiempo los mejores libros, no son dos cosas incompatibles.

    Pero agradezco que en la vida haya tenido las dos posibilidades y ninguna substituida. Ojalá todos pudieran tener las dos posibilidades. Ojalá todos pudieran sentir esta curiosidad.

    Regalamos libros a un niño que los ojea con encanto. Rápidamente se aburre pero cumplimos con nuestra parte. Tal vez en el futuro sea ingeniero de sistemas y no lea ni el horóscopo del jornal.
    Pero si le regalamos a un preadolescente una revista de comics de Batman o de los X-Man o el DVD del señor de los anillos creo que es muy probable que mañana esté leyendo a Poe, a Bradbury, a Quiroga y con algunos años más a Borges, Bolaño, Vila-Matas, Felisberto Hernández, Manuel Puig o Fernando Vallejo.

    Los libros no van a salvar al mundo, ni la economía del Brasil ni del Uruguay....pueden entrenarnos para comprenderlo mejor, para hacernos más críticos.

    Tengo muchas librerías cerca de mi casa. Muchos uruguayos compran libros usados en la feria de Tristán Narvaja los domingos. Lo que le falta a la gente no son 50 reales en la mano....es CURIOSIDAD. Mi hermana que no tenía un peso en el bolsillo porque todo se le iba en pagar la luz y el agua y el condominio se leía por lo menos un libro por semana que retiraba de una biblioteca GRATIS.

    Ojalá Lula levante en su mano algo que motive la curiosidad..que sea lo que sea y que lo haga pronto.

    LES RECOMIENDOS CONCOER DOS PROYECTOS QUE MOTIVAN LA CURIOSIDAD(proyecto argentino y uruguayo respectivamente):
    ELOÍSA CARTONERA y LA PROPIA CARTONERA
    Los catalixo les venden los cartones a estas editoras y los autores dondan los derechos de algunos de sus cuentos. Niños de la periferia pintan las tapas y los libros se venden a R$ 5.

    Abrazos desde Montevideo.

    Paula Chiappara

    ResponderExcluir