segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Torneio de xadrez

No sábado, 11 de janeiro, na Livraria Palavraria, fizemos um Torneio de Xadrez entre os participantes das minhas oficinas literárias.

Juarez Guedes Cruz, grande contista, organizou tudo. Fez as tabelas de emparceiramento, trouxe os tabuleiros produzidos em pano por sua esposa, e venceu. A rigor, todos esperavam que isso acontecesse. Quem já se defrontou com o Juarez sabe que ele não só maneja bem as peças da literatura. Bispos, cavalos e torres, no tabuleiro do Juarez, são ferozes. Suspeito, até, que este nome “Juarez”, seja uma corruptela lingüística de “ajedrez”. Se não for, é uma excelente rima!

Joguei um pouco de xadrez no passado, fui aluno de Serpa, bicampeão estadual, freqüentei o Clube Metrópole. Mas quando compreendi a profundidade da minha ignorância enxadrística, desisti. O campo teórico do xadrez é infinito, e o prático, inalcançável para quem não se dispõe a praticar e praticar e praticar.

Desse meu passeio pelo mundo do xadrez, restou um conto, que publiquei nos anos 80. Ele está na Antologia pessoal, livro que me deu a terceira estatueta do Prêmio Jabuti, em 1999. Pelo visto, sempre fui melhor contista que enxadrista.

Mas admiro muito o jogo e os jogadores de xadrez. Pela complexidade, pela beleza, pela inutilidade. O lúdico é isto, algo que se esgota em si mesmo, pelo simples prazer de ser.

Lá, no passado, imaginei uma história simples, de um homem que dedicou a vida ao xadrez e que chegou a uma grande final. Nós, que escrevemos, sabemos tudo sobre os nossos personagens. Pois eu sabia de cor a partida em que meu personagem sacrificava um cavalo e perdia por tempo. Desde então, vi milhares de partidas, em livros, em computadores, sobre os tabuleiros (jogo, às vezes, com meu genro. Já que ele ganhou a filha, de vez em quando obrigo-o a perder a dama), mas nunca encontrei uma variante parecida com a minha. Até sábado. Na partida entre Pena Cabreira e Beto Canales, a partida do meu conto realizou-se diante dos meus olhos. Mas o Pena, que é completamente diferente do personagem do conto, sacrificou o cavalo, arrematou a partida e ficou em segundo lugar no Torneio.

Por isso, desde sábado, o velho conto ganhou uma dedicatória. Em novas edições em livro, ela estará lá também.

Como dizia Nietzsche, num universo de infinitas possibilidades todas as possibilidades são possíveis, até mesmo uma partida de xadrez repetir, na vida real, o que sonhou um escritor.

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