Olá Charles. Ao ler seu texto, lembrei-me do Quintana e seu epitáfio: “eu não estou aqui”. Minha namorada atual, camusiana que é, tatuou no corpo “eu estou aqui”. O que isso quer dizer? Heidegger fala que nós não morremos, apenas deixamos de ser. Mas isso é frieza demais. Não existe ateu em velório ou em avião caindo. E por mais que queiramos racionalizar o fim ao ponto de relacionar o mesmo com qualquer pesquisa ontológica que for, as coisas acabam soando como a rouquidão do Tom Waits ou como uma vitrola que intermitente roda Miles Davis em um apartamento vazio. Não há como aceitar nossa condição e certeza da morte. Entretanto, apenas da consciência dela é que talvez possamos seguir a vida. Quem sabe, como disse Glauber, devamos ter a morte como missão de fé e não de temor. O que nos sussurra o travesseiro, ao pesar das contas do contador da nossa consciência, é a conversa que não tivemos antes do coração parar de bater. Ainda assim, se o pensamento é a pulsação do pensar, o sentimento é o metrônomo do sentir. E acredito que essa deva ser uma das razões para a escrita: longe da sinceridade, a franqueza, longe do valor dado àquele que escreve, o valor dado ao que se escreve, pois é isso que, no lapidar das últimas pedras da nossa respiração, irá restar. Um abraço.
Olá Charles. Ao ler seu texto, lembrei-me do Quintana e seu epitáfio: “eu não estou aqui”. Minha namorada atual, camusiana que é, tatuou no corpo “eu estou aqui”. O que isso quer dizer? Heidegger fala que nós não morremos, apenas deixamos de ser. Mas isso é frieza demais. Não existe ateu em velório ou em avião caindo. E por mais que queiramos racionalizar o fim ao ponto de relacionar o mesmo com qualquer pesquisa ontológica que for, as coisas acabam soando como a rouquidão do Tom Waits ou como uma vitrola que intermitente roda Miles Davis em um apartamento vazio. Não há como aceitar nossa condição e certeza da morte. Entretanto, apenas da consciência dela é que talvez possamos seguir a vida. Quem sabe, como disse Glauber, devamos ter a morte como missão de fé e não de temor. O que nos sussurra o travesseiro, ao pesar das contas do contador da nossa consciência, é a conversa que não tivemos antes do coração parar de bater. Ainda assim, se o pensamento é a pulsação do pensar, o sentimento é o metrônomo do sentir. E acredito que essa deva ser uma das razões para a escrita: longe da sinceridade, a franqueza, longe do valor dado àquele que escreve, o valor dado ao que se escreve, pois é isso que, no lapidar das últimas pedras da nossa respiração, irá restar. Um abraço.
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