sexta-feira, 11 de março de 2011

10 passos para ser escritor

1. Ninguém nasce escritor, torna-se escritor. E o que leva alguém a se transformar em escritor é a genética e a cultura. A primeira é destino, a segunda – é conquista. Para a primeira, ainda não temos solução. Para a segunda, basta a vontade, o desejo de ser. Como dizia Jean Paul Sartre, um ser humano será, acima de tudo, aquilo que tiver projetado ser.

2. Vontade sem ação é devaneio. Para de sonhar e age. Escrever é como nadar, como andar de bicicleta – é preciso movimentar os braços, movimentar as pernas. No caso da escrita, é preciso movimentar o cérebro.

3. O melhor exercício para o cérebro é a leitura. Além de nos transformar em escritores, a leitura é importante para a saúde, evita o Mal de Alzheimer.

4. Um escritor não precisa ser um lobo solitário, como pregava Hermann Hesse. Pode – e deve – freqüentar cursos acadêmicos, oficinas literárias. Aliás, hoje em dia, é aconselhável que pretendentes à escritura evitem o romantismo e as idéias feitas.

5. Desde o tempo de Platão e Aristóteles, só há dois tipos de escritores, os idealistas e os materialistas, e não há conciliação entre os dois. Há extraordinários escritores idealistas e péssimos escritores materialistas, e há extraordinários escritores materialistas e péssimos escritores idealistas.

6. Ser um escritor idealista ou materialista é só uma questão de ideologia, de visão de mundo. Evite, apenas, o panfletarismo, que é o uso servil das idéias. Não existe literatura isenta, politicamente. Na estrutura profunda de um texto, a ideologia sempre se manifesta. Na estrutura aparente, ou de superfície, o que importa é a técnica.

7. Só existem bons e maus escritores, no sentido técnico. O que são bons escritores – ainda não sabemos. O que são maus escritores nós o sabemos sobejamente.

8. São maus escritores aqueles que constroem histórias desconexas, de temas inexpressivos e estereotipados, em estilo adiposo, desajeitado, flácido, sem harmonia e sem sutileza, com cenas e situações inverossímeis, compostas com descrições desnecessárias e sem articulação com a narração, e arrematadas com diálogos artificiais e inúteis.

9. Todo escritor é um vir a ser. Acreditar-se pronto e acabado é o princípio da morte autoral. A obra prima pode ser a primeira, a décima segunda ou a última obra de um determinado autor. Quem assina a obra completa é a morte. Enquanto vivo, o escritor é um ser em construção. Por isso, o orgulho e a vaidade são extremamente perigosos. Quem sacraliza o próprio texto pode inventar uma nova religião, mas não uma grande literatura.

10. Um escritor somente é escritor quando menos é escritor, no instante mesmo em que tenta ser escritor e escreve. Na absoluta solidão de seu ofício, enquanto a mente elabora as frases e a mão corre para acompanhar-lhe o raciocínio, é escritor. Nesse espaço, entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora. Nesse átimo, o escritor é escritor. Aí e somente aí. Depois, já é o primeiro leitor, o primeiro crítico de si mesmo e não mais escritor.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Confira o programa Pedro Ernesto Entrevista - 08/03/2011

Entrevista na TVCOM

Sei que ninguém viu a entrevista que dei na TVCOM, no Programa Pedro Ernesto Entrevista, pois foi ao ar no meio do feriado de carnaval. Nela, lancei a candidatura de Luiz Antonio de Assis Brasil para a Academia Brasileira de Letras.

Se alguém quiser ver, pode acessar o site abaixo:

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=170782&channel=41

sexta-feira, 4 de março de 2011

De trabalhos e cansaços

Há alguns anos, quando entrei para a Editora Record, imaginei que agora sim, agora meus livros iam deslanchar. Que nada, continuei vendendo umas ninharias. Um livro de contos meu, Logo tu repousarás também fez a gentileza de vender 2 ou 3 exemplares em 3 meses, como já contei aqui. Não que eu queira vender como o Paulo Coelho, mas eu queria receber de direitos autorais o suficiente para pagar um jantar, comprar uma máquina nova de lavar roupas, pagar um final de semana na Serra. Trabalho de segunda a sábado, dando aulas em três locais diferentes, para ter um padrão de vida decente, para dar a minha filha Sofia e a Marta, minha mulher, um pouco de tranquilidade (a outra filha, a Maíra, tem 30 anos e já se vira sozinha), mas ando cansado de trabalhar tanto.

Enfim, bem que eu queria viver de direitos autorais. Sei que não vou conseguir isso, mas não custa sonhar. Na década de 90, cheguei a sobreviver com direitos autorais, e assim tive condições de fazer uma formação superior. Meus livros vendiam muito, estavam bem distribuídos. E aí minha editora praticamente faliu e minhas vendas despencaram também.

Agora, aos poucos, vou recumperando um espaço que já tive.

Quando estive em São Paulo, para o lançamento de Para ser escritor, na Livraria Cultura, o Luiz, da minha outra editora paulista, a Manole, trouxe-me a nova edição de O pêndulo do relógio & Outras histórias de Pau-d´Arco, que foi rodada agora. Extraoficialmente, ele garantiu que esse meu livro vendeu, em 2010, um pouco mais de 15 mil exemplares.

Depois dessas duas boas notícias, a reedição de Para ser escritor e de O pêndulo do relógio voltei a sonhar a trabalhar menos e escrever mais.

Quem sabe em 2012 eu publique meus romances O santo da caveira, Dia de matar porco, O cavaleiro da Ordem da Avenca e Pó-de-mico, Barbicacho e Diabo Loiro? Eles estão lá, no limbo dos livros não publicados, a espera de que eu me anime um pouco. A desilusão com o sistema literário brasileiro tem me feito deixá-los no escuro, esquecidos em meu escritório.

terça-feira, 1 de março de 2011

Para ser escritor, nova edição

Recebi hoje uma boa notícia. Eu diria até que é uma grande notícia. Tainã Bispo, minha editora na Leya Brasil escreveu-me dizendo que o livro Para ser escritor está indo para a segunda edição de 3 mil exemplares.

Isso significa que o livro vendeu, entre 05 de novembro, quando foi lançado na Feira do Livro, e hoje, 01 de março, 3 mil exemplares.

Ou seja, em breve teremos mais 3 mil escritores no mercado brasileiro do livro, já que a obra se destina àqueles que desejam ser escritores, como o título anuncia.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, dizia Camões. Antigamente, as pessoas queriam ser leitores. E eram. Platão chegou a afirmar que uma casa sem livros era um corpo sem alma. E os gregos, é bom lembrar, não tinham máquinas impressoras rotativas, e acreditavam na existência da alma.

Ainda ontem, no enterro de Moacyr Scliar, a escritora Tania Faillace voltou a me criticar por causa das oficinas literárias. Ela pensa que eu e o Assis Brasil somos responsáveis pela falência da literatura, pois a cada ano colocamos no mercado editorial centenas de novos autores.

Entre as tumbas do cemitério israelita eu disse a ela que se as oficinas não servem para formar escritores, como ela pensa, são viveiros de novos leitores, até para os livros que ela escreveu.

Perguntem ao editor Ivan Pinheiro Machado, da LP&M, quantos exemplares de Cavalos do amanhecer, de Mário Arregui, ela já vendeu aos meus alunos e ex-alunos de oficina...

Perguntem aos editores de Raymond Carver ou de Bernard Malamud...

Para ser escritor é preciso – antes de mais nada – ler. E é o que os candidatos a escritores estão fazendo...