terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O livro que não deveria existir

Em 1912, um vendedor de livros raros, Michal Wojnicz, polonês, comprou um manuscrito exótico da College Ghislieri, instituição educacional dos jesuítas de Frascati, Itália.

Michal meteu-se com revolucionários russos, foi preso e enviado à Sibéria. De lá, fugiu para Londres, onde se tornou livreiro. Mais tarde, transferiu seu negócio para a costa leste dos EUA, já com o nome de Wilfred M. Voynich.

O Manuscrito de Voynich é uma das maiores preciosidades bibliográficas da história da humanidade. Hans P. Kraus, bibliófilo e livreiro, adquiriu-o e, como é tradicional entre empresários norte-americanos, doou-o ao Museu da Universidade de Yale, em 1969, onde hoje se encontra.

Esse livro, tecnicamente, não existe, pois até hoje, apesar dos esforços de centenas de lingüistas, antropólogos, historiadores e cientistas, não foi decodificado. Se um “texto”, que é uma rede de significação, só existe na medida em que é lido, o Manuscrito de Voynich não existe.

O “livro” é composto de 272 páginas de velino. Dessas, 240 são recobertas por uma estranhíssima “linguagem”. Segundo especialistas, a partir de exames de datação em laboratório, concluiu-se que o suporte teria recebido a tinta entre 1404 e 1438.

Composto de 170.000 caracteres (ou hieróglifos) também desconhecidos, o Manuscrito de Voynich contém ainda algumas ilustrações. São desenhos de plantas, aquedutos e, principalmente, de figuras femininas.

Embora os criptologistas e lingüistas que o examinaram, e foram centenas, reconheçam que o texto contém uma “linguagem identificável”, já que é feito de estruturas e regras de construção parecidas com as das línguas antigas e modernas, sequer uma única palavra, de suas 35.000, foi, até aqui, identificada.

No século XVII, o manuscrito pertenceu a um obscuro alquimista de Praga, Georg Barech. Ele o usava como manual?

Como se pode imaginar, a mitologia em torno do Manuscrito de Voynich é abundante.

Produto de uma linguagem perdida na idade média européia? Manual de medicina e de alquimia? Texto alienígena? Texto maçônico, já que Voynich comprou o original da Sociedade de Jesus?

No museu da Universidade de Yale ele é conhecido como O livro que não deveria existir.

Quem se habilita a ser o Champollion desse texto?

10 comentários:

  1. Que interessante! Nunca havia sequer ouvido falar deste livro ou desta história.

    Quanto a me arriscar a compreender, decifrar este texto, Charles, me recuso, ainda que me convoquem. Minha filosofia linguista é a mesma do Antônio Maria, o grande cronista dos anos 50, que certa vez afirmou: "Acho que a gente tem que ser ignorante em uma única lingua"

    abraços paulistas
    Cesar Cruz

    ResponderExcluir
  2. Acho que deveriam dar esse trabalho pro Google. Hehehehe.
    Super interessante, também nunca tinha ouvido falar nisso.

    ResponderExcluir
  3. Charles,

    Como aqui na capital de SP é feriado, e não tenho mais o que fazer, fui ao Google. Inúmeras páginas sobre o assunto. Imagens e fotos do manuscrito que valem a pena serem vistas. Na Wikipedia (versão da Espanha), há um bom resumo da obra (o qual obviamente entendi apenas partes, já que sou monoglota assumido) e há lá uma imagem que se pode abrir e ampliar bastante. Vale ser vista.

    Sinceramente, a tal página do manuscrito ali apresentada, me fez lembrar dos textos provisórios das cartilhas publicitárias, o conhecido NONONONONONON.

    Pois bem, como é feriado por aqui, e fico mais propenso a dizer bobagens, chego a achar que esse manuscrito foi gozação de algum escritor daquela época, que o Caronte já arrastou faz tempo, mas que deve estar em algum lugar do inimaginável rindo muito da gente.

    Abraços
    Cesar de SP

    ResponderExcluir
  4. Li e gostei muito do post.

    Mas acho que foi uma brincadeira de algum linguista medieval, que criou o idioma para consumo próprio. Se até o sumério e o egípcio arcaico ( 3000 AC)já foram decifrados, algum dos trezentos experts que examinaram o texto teriam conseguido traduzir ao menos algumas palavras, já que ele provém do século XIV

    Abraço

    Marcel Citro

    ResponderExcluir
  5. Na internet a gente deve confiar desconfiando. Basta ver os tantos textos do Borges aconselhando a comer sorvete e subir montanhas. Mas fiquei curiosa, vou dar uma olhada

    ResponderExcluir
  6. Charles, incrível !!! No começo da década de 70 encontrei um "bilhete", se posso chamar assim, do meu pai, que morreu em 1966 e que mal conheci, falando sobre esse livro ... Vou ver se recupero este escrito ... não sei se consigo, afinal minha família é muito confusa ... Mas, esse meu pai era um apreciador do "só sei que nada sei" e até esperanto ele arranhava ... Quando falas de extraterrestres, lembranças perdidas voltam à minha mente ... Respeito de montão este teu lado "cientista" ... sabe-se lá o que ainda não sabemos, né ... beijo, Luiza

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Caro professor, bom dia!
    Interessante este pequeno artigo sobre o Manuscrito. Trabalho em uma instituição jesuíta, e por aqui ninguém soube me explicar muito bem sobre o assunto (sendo que há padres com 100 anos de idade que mantém suas memórias bem ativas).
    Bom, a curiosidade me levou a ver o que a wikipédia (e os pdf's). Não sou pesquisador, apenas curioso. O que pude perceber rapidamente é que a letra que representa Y na tabela EVA do manuscrito assemelha-se muito com a letra wàw do alfabeto árabe. Parece haver traços de hebraico, pois a letra que representa n no EVA (manuscrito) é muito parecida com o que está no alfabeto rasi. São curiosidades que necessitam de estudos profundos, tempo, comparação com outras formas de escrita e alfabetos.
    Abraços,
    Eduardo

    ResponderExcluir
  9. Eduardo,

    há 600 anos o Manuscrito espera um tradutor. Pelo visto, tens habilidade para iniciar esse processo. Creio que pela internet, na Biblioteca de Yale, conseguirás uma cópia do texto.

    Abraço,

    CK


    Bom trabalho.

    ResponderExcluir
  10. Olá, professor!
    Causou-me espanto o fato da ilegibilidade deste manuscrito, pois nem os linguistas e os decifradores de códigos conseguiram traduzi-lo. Talvez alguém consiga realizar esta façanha.
    Para que um livro exista é necessário que o mesmo possibilite a decodificação e interpretação pelo leitor.
    Não será esta mais uma questão a ser discutida?
    Um abraço
    Beatriz

    ResponderExcluir