Ontem, dormi tarde. Ouvi, pela CNN, o presidente dos Estados Unidos fazer o seu Discurso do Estado à União, em sessão conjunta no Congresso.
Algumas coisas impressionaram-me muito.
Falou, sem ler, e aparentemente sem ponto, durante 80 minutos. Num inglês de fazer inveja, sem titubear, com elegância retórica, riqueza lexical e correção sintática. Cometeu uma única imprecisão, quando homenageava o empresário norte-americano que inventou a cápsula que socorreu os mineiros do Chile.
Foi interrompido por longos aplausos mais de 80 vezes, tanto por democratas quanto por republicanos.
Mc Caim, seu adversário nas últimas eleições, aplaudiu-o de pé.
Quando fez um trocadilho sobre os gays nas Forças Armadas, não foi aplaudido pelo alto comando militar que estava presente.
Transcrevo-o em inglês, para que a sua graça retórica não se perca: no american will be forbidden from serving the country they love because of who they love.
Barack Obama, em certo momento, levou-me às lágrimas. Não é todo ano que a gente ouve um presidente da maior potência do planeta valorizar a figura do professor.
Eis o que disse, literalmente:
If you want to make a difference in the life of our nation; if you want to make a difference in the life of a child – become a teacher. Your country needs you.
Se tu queres fazer diferença na vida de nosso país; se tu queres fazer diferença na vida de uma criança – torna-te professor. Teu país precisa de ti.
Obama não convocou a juventude dos EUA a jogar futebol, a viajar pelo espaço, a transformar-se em astro de cinema. Ele incentivou milhões de meninos e meninas a se tornarem professores. E consumiu boa parte de seu discurso conclamando a sociedade norte-americana a investir mais e melhor em Educação.
Barack O Bama significa “o raio que vem do céu”. Ontem, a luz apolínea de sua extraordinária retórica luziu sobre o Congresso.
O primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América sabe que seu povo terá anos muito difíceis pela frente: uma nova glaciação se aproxima; grandes distúrbios sociais tomarão as ruas de muitos países; os efeitos cataclismáticos da natureza em fúria já estão aí; um novo baktun (ou uma nova era) começará dentro de dois anos, mas ele parece ter sido preparado pelo destino para enfrentar as adversidades. Ou pelo menos pela linguagem, que adquiriu nas escolas e faculdades que freqüentou.
Que O raio que vem do céu não venha em sua forma maligna, como Deus da Guerra, mas em sua forma benéfica, como raio de cultura, educação e cidadania.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Gosto do Obama. Acho-o corajoso, cara-limpa... Estão loucos para massacrá-lo e fazê-lo em retalhos, mas estou firme na fé de que ele conseguirá suportar. O mundo precisa de alguém Lá com essa visão clara, sensata e humana.
ResponderExcluirabço
Cesar
É o que tanto tenho falado, escrito, comentado entre amigos. Inclusive, escrevi sobre naquela avaliação da Oficina do semestre passado.
ResponderExcluirMais do que ser professor, mais do que ser mestre, mais do que ser fio condutor de conhecimento; devemos ser, antes de tudo, humanos que tratam aquele que tá na nossa frente como humano. Humano digno que acredita e trata o outro com dignidade.
Não existe respeito maior que acreditar que o outro é capaz por ele próprio e dar o "poder" ao indivíduo.
"A Questão é saber se podemos permitir que o conhecimento se organize no e pelo indivíduo, em vez de ser organizado para o indivíduo."
Frase de talvez o maior pensador e pesquisador da liberdade e da psicologia.
Logo começarei minha especialização em Logoteoria (teoria do sentido) aplicada à educação. Especialização essa que não utilizarei pra cavar poços profundos, obscuros e talvez supreendentes; facilitarei a caminhada seja do conhecimento ou moral auxiliando pra que vejam os horizontes que muitos ainda insistem em negar.
Abraço!
Kiefer, excelente análise, excelente blog. Prossiga sempre, por favor. E gostei muito mesmo da tradução de parte do discurso do Obama para a segunda pessoa do singular. Não se costuma fazer isso nem mesmo no RS.
ResponderExcluirNão acompanhei o discurso do presidente, mas foi bom ler aqui. O futuro de uma nação está na educação. Obama já sabe disso e não perderá tempo em incentivar o povo norte americano. Nós é que precisamos acordar para essa realidade, valorizando mais nossos professores e motivando as pessoas a estudarem mais. Sucessos.
ResponderExcluirBeleza de postagem! Aposto que muitos "perfeitos idiotas latino-americanos" ficariam com urticária se o lessem.
ResponderExcluirNegão porreta! Admiro esse cara por muitíssimas razões. Entre elas por, apesar de rico e famoso, não ter comprado uma prostituta branca (como sói acontecer por estas e outras plagas), valorizou as mulheres de sua cor: casou-se com uma, inteligente, culta, articulada e negra como como ele.
Abraço