Quando viajo, não gosto de contemplar os grandes monumentos, as suntuosas catedrais, as largas avenidas. Meu olhar de viajante repousa nas pequenas coisas, nos detalhes insignificantes, porque são eles que, a rigor, dizem verdades profundas sobre os lugares que visitamos.
Monumentos, catedrais e avenidas todos os países do mundo têm. E, em geral, são semelhantes, ufanistas e autoritários. Impõem-se aos nossos olhos com uma veemência embaraçadora. Os monumentos são emulações da guerra, as catedrais são declarações de insensatez e as avenidas são sinônimos da pressa, do ruído e da poluição.
No Uruguai, um pequeno adesivo, colado à altura dos olhos em inúmeros mictórios de restaurantes, de postos de gasolina e de hotéis me disse mais sobre a sociedade “celeste” que as ramblas, as estátuas eqüestres, os templos e assemelhados.
Ali, em espanhol claro e simples, e que só podia ser lido por machos no ato de micção, estava escrito: “Para ser um homem de verdade não é necessário que sejas violento com as mulheres”.
A adequação do local, a propriedade do instante, a inegável reflexão que a mensagem necessariamente provoca em quem a lê me levaram a considerar este detalhe o mais interessante dos que vi no país vizinho.
Uma mensagem dessas, aposta num espaço que todos os homens são obrigados a freqüentar, pelo simbolismo (a leitura com o falo na mão), graça e inteligência tem um poder espantoso. Não se sai de uma experiência dessas da mesma forma como se entrou. A bexiga poderá ficar aliviada, a consciência não.
Contra a barbárie e a selvageria, contra o preconceito e a falta de caráter, só há um caminho: a educação. E se for necessário iniciar esse processo pelo mictório, que seja. Curiosamente, em todos os locais em que vi essa mensagem não havia sequer uma das costumeiras frases escatológicas que infestam os banheiros públicos.
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Charles, isso reforça uma impressão que tive do Uruguai quando lá estive em 2006, e duas notícias do "El País" me chamaram a atenção:
ResponderExcluir- uma delas informa que a violência doméstica - que mata uma uruguaia a cada nove dias - é um grave problema de saúde pública, e divulga decreto presidencial que obriga médicos a realizar questionário em suas pacientes a fim de descobrir indícios de casos de violência e comunicá-los à polícia;
- a outra se referia a uma marcha de "los varones" contra a violência, da qual participaram congresistas, com faixas que diziam algo como somos machos mas não batemos.
Se o Uruguai não é tão ou mais machista que nós riograndenses, pelo menos lá o tema da violência doméstica é explícito, assim como o "combate cultural" contra a mesma, como observastes nos banheiros públicos.
Ah, Charles. Este post e o anterior estão demais. Este aqui, então, está um primor. Apropriado, necessário e delicado. Um beijo pra ti e para os outros homens de verdade.
ResponderExcluirKiefer, então está provado que toda leitura transforma mesmo!!!
ResponderExcluirQue bom te ler, e se necessário, criemos a "Bibliofalocracia"????
Brinco, para dizer que valeu a reflexão.
Um abraço carinhoso,
Carmen Silvia Presotto