Transcrevo abaixo a carta que recebi do Diretor do Museu Julio de Castilhos, sobre o texto que escrevi a respeiro das "botas do gigante".
"Sr. Charles Kiefer.
Tomei conhecimento, através de mail que chegou ao Museu Julio de Castilhos, de fato apresentado em seu blog referente a acervo desta instituição. Sendo assim, esclareço:
Dentre as missões confiadas aos museus, tanto pelo código de ética do Conselho Internacional de Museus quanto pela Lei Federal nº. 11904, que institui o Estatuto dos Museus, duas atribuem intensa responsabilidade ao gestor: a salvaguarda do acervo e a informação ao público.
A primeira trata da preservação e da garantia da integridade do patrimônio confiado à Instituição, pontuada na adoção de medidas de controle, segurança e manutenção das peças do acervo. A segunda garante a posição Institucional, o serviço para a sociedade, o compromisso e a responsabilidade com o público, traduzida na qualidade do conhecimento produzido e difundido por meio dos testemunhos materiais, as coleções, guardadas no Museu, que devem seguir critérios técnicos de documentação e pesquisa.
Os objetos museais, assim como todos os materiais, sofrem com a ação do tempo e das intempéries ambientais e estruturais a que são submetidos. O museu deve monitorizar cuidadosamente o estado de conservação do acervo para determinar quando um objeto necessita de trabalho de conservação/restauro com serviços especializados. O objetivo primordial deverá ser a estabilização da peça. Todos os procedimentos relacionados com a conservação devem ser documentados e reversíveis, e todos os elementos adicionados, bem como as alterações físicas ou genéticas devem ser tratados contrariando os efeitos nocivos da biodeterioração.
No caso “das botas do gigante”, objeto nº.1520 da coleção do MJC, peça que foi doada ao Museu na década de 1920 quando as instituições viviam sob um contexto museológico enciclopédico, encontra-se afetada pela má conservação em decorrência de tantos anos de exposição ininterrupta e carência de conservação preventiva.
Realizando um diagnóstico da conservação dos objetos, percebeu-se que a peça estava vulnerável, bem como outros bens culturais tombados pelo patrimônio histórico e artístico nacional, apresentando fungos, mofo, comprometimento na sua estrutura física, craquelamento, ressecamento, entre outros processos de ameaça. Não comprometer a integridade do patrimônio é uma decisão técnica definida em plano diretor numa gestão comprometida com uma política apropriada à ética museológica.
Embora possam causar conflito de interesses, procedimentos de acondicionamento em reserva técnica e retirada do circuito expositivo de peças julgadas comprometidas ou que estejam incoerentes com o nexo expositivo, são ligadas à gestão do acervo, bem como a implementação de soluções técnicas sustentáveis, especialmente em instituições de caráter público e que tem o compromisso com o serviço para ele.
Atualmente os museus utilizam uma grande variedade de especializações, capacidades e recursos materiais que têm uma aplicação muito mais vasta do que no próprio museu. Um museu deve ser dinâmico e envolvido com a sociedade, permitindo partilhar e prestar outros serviços públicos como atividades de extensão e educação. Estes serviços devem ser organizados de forma a não comprometer a missão do museu e do seu acervo.
O acervo do museu deve refletir o patrimônio cultural e natural das comunidades da qual provem. Como tal, poderá ter um valor que vai além da propriedade comum e que pode envolver fortes afinidades com a identidade local, regional, nacional, étnica, religiosa ou política. É por isso, importante que a política do museu leve em consideração estas responsabilidades, devendo ter cuidado com a prestação de dados que manifestem sentimentos e posicionamentos preconceituosos e comportamentos profissionais ilegais e condutas pouco éticas.
O Museu Julio de Castilhos nesta gestão deve aproveitar todas as oportunidades para educar e corroborar ao público sobre os objetivos, propósitos e aspirações da produção da memória coletiva, a fim de desenvolver uma melhor compreensão pública sobre a contribuição dos museus para a sociedade, através do patrimônio cultural, tangível e intangível.
Os profissionais de museus devem desenvolver a investigação, preservação e utilização das informações referentes ao acervo. Por isso, devem evitar executar qualquer atividade ou envolverem-se em circunstâncias que possam resultar em perdas de informações acadêmicas e científicas.
Os museus têm um papel ativo e múltiplo na sociedade, associado à acessibilidade e interpretação dessa memória. Desta forma, os museus possibilitam a partilha, avaliação e compreensão do nosso patrimônio.
Os responsáveis pelos museus e os que se preocupam em providenciar todos os aspectos relacionados com os mesmos, têm um comprometimento público. Isto deve balizar o seu comportamento, uma vez que essa responsabilidade não se limita necessariamente às questões administrativas, políticas ou acadêmicas. O Museu Julio de Castilhos segue o Código de Ética do ICOM e estabelece padrões mínimos que podem ser considerados pela expectativa pública razoável e com a qual os visitantes podem avaliar o seu desempenho.
Creio que falhamos em não termos transmitido corretamente a decisão da retirada da peça do circuito expositivo a todos da Instituição. O que pode ter ocasionado este ruído na informação. Situação esta que já foi corrigida.
Agradeço seu interesse e me coloco a inteira disposição para qualquer outro esclarecimento.
Respeitosamente"
Luiz Armando Capra Filho
Diretor Museu Julio Castilhos
Rua Duque de Caxias, nº. 1205 e 1231
Cep:90.010-283 - Porto Alegre - RS - Brasil
+55 (51) 3221.3959
http://www.museujuliodecastilhos.rs.gov.br/
museu_juliodecastilhos@cultura.rs.gov.br
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