Felizmente o sr. Luis Armando Capra Filho, diretor do Museu Julio de Castilhos, enviou uma explicação sobre a questão das botas do gigante. Na condição de ex-secretário municipal de cultura, ex-diretor geral da Secretaria de Cultura do RS, entre outras ex-bobagens que fiz na vida, entendo a situação do gestor e administrador público. Geralmente se paga o pato, e, às vezes, as botas, pelos erros dos outros. É o ônus do cargo. Quem não gosta de política, não deve entrar na política.
E aqui vou me deter um pouco. Inclusive, dialogando com alguns comentários postados por leitores.
Obviamente eu sei que museu isso, que museu aquilo. Na PUC, por vários semestres, dei uma cadeira chamada "Sociedade, Literatura e Cultura" onde discutíamos a colonização cultural, a importação de padrões estrangeiros (europeus, em geral), as relações entre a conservação, preservação, reserva técnica, política cultural de acervos etc.
Mas aqui, hoje, quero abordar uma relação tensionada, problemática, um verdadeiro calcanhar-de-aquiles da gestão cultural.
O secretário de cultura, o diretor cultural, o cordenador de área é, normalmente, um quadro político, um "cargo de confiança", enquanto que os gestores internos são quadros técnicos, ditos de carreira, estáveis funcionalmente. O político pensa na política; o técnico pensa academicamente, em conformidade com o manualzinho despejado sobre ele na Universidade (com modelito europeu, né, Julia?). E aí instala-se a celeuma. Pobre diretor que tem do lado de fora da instituição a sociedade, cobrando-lhe eficiência "política", e do lado de dentro a área técnica, cobrando-lhe rigidez aos modelos, respeito às normas etc.
O caminho do meio, o caminho do diálogo, da transparência, da informação clara, objetiva e qualificada é a melhor solução.
Se, ao tentar visitar as "botas do gigante" eu tivesse recebido um folder com os argumentos expressos pelo sr. Capra Filho agora, não teria escrito a sarcástica crônica que escrevi. Ou talvez escrevesse sobre o aspecto positivo que era ele ter recolhido as botas para preservação, recuperação e tudo o mais.
Às vezes, uma boa iniciativa técnica, naufraga na má política. Aliás, em aula, muito elogiei o governo Yeda por acertos técnicos, mas sou um crítico implacável de seus desacertos políticos. Política a gente aprende com diálogo, com ouvido atento, com sensibilidade e transparência. Um museu começa pela portaria, pela qualificação dos atendentes, pelas informações fornecidas.
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Outra coisa Charles: o Museu Julio de Castilhos não é o Museu da Bota do Gigante...
ResponderExcluirGosto das tuas postagens, acho interessante a oportunidade dada ao debate, mas acho que antes de um Museu começar pela portaria e qualificação dos atendentes(no caso do Museu Júlio, a portaria é atendida gentilmente por soldados da Brigada Militar cedidos à instituição), deveriam ser supridas as necessidades funcionais para um adequado atendimento ao público.
ResponderExcluirDida