quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Comentários sobre um comentário

Um anônimo, leitor deste espaço, vestiu um chapéu engraçado e acusador. Leiam com atenção o que ele postou no dia 05 de janeiro deste ano. Eis a transcrição, que retirei do setor de comentários do próprio blog:

“Anônimo disse...

Hoje está chovendo por aqui, fiquei quase uma hora...

Qual será o IP deste computador? IP-roxo?

Esta reclamação velada do anonimato, feita por ti, é um caminho de duas vias. Se há pessoas que não se identificam, tu também não permite que haja a divulgação de mensagens de anônimos, ou mesmo aquelas, identificadas, que venham a criticar as tuas posições.

Foi por isso que abandonei as oficinas. Autoritarismo demais, como só houvesse "inteligentsia" na pessoa do comissário Kiefer.

Não seria o momento de fazer uma "perestroika" no teu método de trabalho?

Vou ficando por aqui, antes que a KGB me localize...

Saudações, camarada!”

Vamos por partes:

1. O IP do teu computador fica, sim, registrado a cada acesso no Statcounter.com, que foi colocado em meu blog por minha filha Maíra, não para que soubéssemos quem acessava, mas para sabermos quantos acessavam... Ao mexer no programa, descobri coisas que eu nem sonhava. Enfim, agora eu sei, por exemplo, como a Polícia Federal chega à casa dos pedófilos e consegue prendê-los. Como toda tecnologia, tem um lado bom e um lado mau. O bom é que se pode fazer justiça; o mau, é que é um instrumento de controle e de poder. Nas mãos de governos ditatoriais sabemos onde se pode chegar...

2. A reclamação que fiz contra o anonimato não é velada, mas clara, objetiva e ética. Considero o anonimato um desrespeito, uma calhordice, uma covardia. Na sociedade democrática em que desejo viver todos têm o direito de expressar a sua opinião, mas quando fazem acusações pessoais, quando caluniam, devem ser responsabilizados. Aliás, minha luta contra o anonimato não é expressa apenas aqui. Em artigo que escrevi para o Jornal Extraclasse já havia definido a minha posição. O artigo pode ser lido aqui mesmo e se chama “Eu assino o que escrevo”.

3. Dizes que eu não permito a divulgação de “mensagens de anônimos, ou mesmo aquelas, identificadas, que venham a criticar as tuas posições”? Mas e o que fazes aqui, cara pálida? Deletei uma única mensagem anônima, que agredia pessoalmente um escritor gaúcho (que nem faz parte das minhas relações) e vou deletar toda mensagem que fizer acusação ou calúnia contra quem quer que seja. Contra mim, tudo bem, mas não usem o espaço sob minha responsabilidade para esse tipo de ação criminosa (que é disto que se trata).

4. Repito a tua afirmação: “Foi por isso que abandonei as oficinas. Autoritarismo demais, como só houvesse "inteligentsia" na pessoa do comissário Kiefer. Não seria o momento de fazer uma "perestroika" no teu método de trabalho?” Hilário. Se segurança, entusiasmo e rigor são autoritários, tens razão. Foi melhor teres abandonado, porque os que ficam comigo são éticos, conscientes, têm posições políticas claras. É fácil te esconderes atrás do anonimato e me chamares de “comissário”, como se eu fosse delator, como se eu estivesse a serviço de algum partido político, como se eu perseguisse alguém. Meus alunos são adultos, pagam mensalidade e saem quando querem. Anônimos, sim, têm um bom perfil para o “comissariado” a que te referes. Homens como eu, que agem a luz do dia, que enfrentam as questões e respeitam o contraditório, costumam ser perseguidos pelos “comissários”, costumam ser atacados pelos sistemas políticos autoritários. Tenho feito constantes revisões em meus métodos de trabalho, como disso testemunham Rudiran Messias, Reginaldo Pujol Filho e Monique Revillion, que estão em minhas oficinas há 16 anos! A partir de uma pesquisa que minha orientanda Luciane Tavares fez na PUC, nas aulas de Escrita Criativa, estou modificando meu método mais uma vez (isto lá na Universidade, onde o perfil do aluno é completamente diferente do perfil dos alunos das oficinas particulares). E sempre que eu perceber que algumas coisas não funcionam nos meus métodos (porque eles são plurais), irei alterá-los. Como tu és anônimo, não poderemos dialogar sobre isso. Se, diante de alguma discussão teórica que tivemos em sala de aula, tivesses permanecido (e não saído como declaras), talvez teus pré-conceitos a meu respeito, hoje, fossem outros.

5. Esta afirmação é espantosa: “Vou ficando por aqui, antes que a KGB me localize... Saudações, camarada!” Vou te contar uma história. No início dos anos 80, numa oficina que dei na Biblioteca Pública Josué Guimarães, tive a honra de ter entre meus alunos um “araponga”, ou “comissário” ou “espião” da ditadura, como queiras chamar. Depois de algumas semanas, ele me disse: “Olha, professor, gostei tanto das tuas aulas que preciso confessar, eu estou aqui incumbido de fazer um relatório sobre a tua pessoa. Não és nada do que imaginávamos”. É engraçado: os direitistas me acusam de ser bicho-papão; os esquerdistas, de ser “padre”, conservador etc. É, ter opiniões próprias, defendê-las, não ter medo dos poderosos, pregar a democracia e a verdade dá nisso. É o preço que preciso pagar, e eu o pagarei, a despeito dos anônimos, dos covardes, dos desonestos. Saudações democráticas, inclusive aos nazistas, fascistas, comunistas e tantos outros apegados às etiquetas, aos chavões e às idéias feitas.

11 comentários:

  1. Anônimo6/1/10 13:00

    Não esquenta a cabeça com esse pessoal que não se identifica, professor...Talvez seja essa mesmo a intenção do tal fulano!

    Abraços

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  2. Concordo.. o "fulano", que ao não se identificar busca abrigo na sua própria covardia (no mínimo), assim deixa de ser "fulano" para virar objeto dos nossos comentários.

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  3. Esse... "Cara pálida", como diz nosso Mestre, não sabe dar valor ao que é bom.
    Creio que ele quer chamar a atenção.
    Chamou.

    Para ser aluno de oficina, filho, é preciso:
    “Ver com os olhos do coração”...
    “Ler como um escritor”...
    E...
    Por ai vai... Eu ficaria horas aqui escrevendo.
    Quer saber?
    Tenho orgulho de ser aluna da Oficina do Charles Kiefer!

    Charles, não dá bola para essas coisas pequenas, tu és muito maior do que isso!
    Um beijo em teu coração.

    Muita Paz e muita Luz para todos.
    Judith Riboni.

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  4. Como é saudável colocar os "pingos nos is" não é mesmo? Acho que, de certa forma, deve ter sido catártico escrever essa resposta. Ela pode dirigir-se aos inúmeros anônimos fantasmas que vivem assombrados e assombrando!
    Um abraço, Marcelo.

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  5. Pois, é, Charles. Com Statcounter ou sem, os anônimos são sempre, mas sempre mesmo, apenas criaturinhas desprezíveis e sem coragem de colocar a cara a tapa.

    Valeu pela resposta, mas ele (ou ela) receberiam apenas meu mais solene desprezo.

    Bom 2010.

    Tua aluna de trocentas oficinas, desde 2001,

    Cecilia.

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  6. É,Kiefer!!!

    Tem sombras que, além da luz, agora tateiam sob o espaço dos outros, indignos cara pálidas, sem nome, sem espaço e, o que é pior sem criatividade, pois como personagem é fraco, muito fraco...

    Um abraço.

    Carmen

    No entan

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  7. Anônimo6/1/10 17:32

    Charles,
    o anônimo nutre amor e ódio por ti. Apesar de se retirar e desvalorizar as oficinas, não consegue se distanciar e fica no anonimato "espiando" e "atacando".
    Porque será?
    Alguem tem alguma idéia?
    Abraços.
    Sandra Stechman

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  8. Charles, uma pessoa que critica anonimamente não merece nem respeito e sequer pode ser considerado cidadão, pois a Constituição Fedaral de 1988, conjunto de leis que organiza e rege este país ( e que todos deveriam ler e conhecer a fundo) não permite o anonimato.

    Acho belíssima a tua resposta, de uma lucidez e ironia elevadas, mas sinceramente? Desnecessárias. Como tu mesmo disseste para mim, em uma das aulas, com referência a um dos meus textos, bala de canhão para passarinho.

    É preciso ser por demais corajoso para ser crítico na frente da pessoa criticada, e esse é um dos motivos pelos quais te admiro como professor e como cidadão: todas as vezes em que precisaste falar alguma coisa sobre o texto, falaste sempre na frente do autor. E eu nem comento sobre a tua postura ética exemplar, porque aí é entrar num campo onde nem todos sabem os códigos necessários para agirem com naturalidade.

    Não tenho aulas contigo há tanto tempo como outros, mas sei identificar valores como moralidade e retidão de caráter onde encontro. E por isso sempre gostei de ti. Muito mais pelas tuas críticas do que pelos teus elogios (que são sempre esparsos mas cirúrgicos.).

    O caminho mais fácil da mediocridade é o elogio. O respeito e a exigência do melhor do outro sempre passam pela crítica.

    Cristina Moreira

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  9. O autor das críticas deixou a oficina pelos mesmos motivos pelos quais eu e centenas de outros alunos não a deixamos: o rigor e a honestidade intelectual do Charles. Nele, essas duas qualidades são inabaláveis. Se você queria um professor que concordasse com as suas opiniões, seja lá quem você for, fez bem em sair, estava realmente no lugar errado.

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  10. Herr* Kiefer, vou te dizer uma coisa que nunca disse (muito mais por distração, do que por falta de oportunidade): seja sob o método da oficina que freqüento há 04 anos, seja sob o método das milhares de palestras suas que assisti, você é o melhor professor que eu já tive (e olha que já tive professores excelentes).
    E sabe qual o fundamento dessa afirmação?
    Nunca conheci alguém com tamanha sinceridade intelectual. Um aluno de verdade não tem medo da crítica, aliás, o aluno verdadeiro busca o mestre justamente porque deseja a crítica. Sem ela, ele não evolui. Para você que gosta de etimologia, do latim alumnus, alumni (criança de peito), alere (alimentar, nutrir, fazer crescer): o aluno é aquele que se alimenta; a crítica é um de seus nutrientes.
    Leila de Souza Teixeira

    * Só para descontrair: na verdade, quando li seu post, minha primeira reação foi achar tudo muito engraçado; imaginei você como membro da Stasi, controlando “A vida dos outros” de algum sótão da Berlim Oriental.

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  11. Céus, Charles!!!! esse mundão de deus está mesmo invertido.... o anônimo, calhorda e covarde está se achando "o bacana", comparando-se, ou melhor, impondo-se ao "que assina o que escreve", é isso? Tenho muito medo desse tipo de personalidade, esse é o delator, o traidor, a coisa mais perigosa que posso imaginar.... não consigo ver inocência, sequer brincadeira nisso... Esse cara não precisa apenas saber a definição de ética... precisa ser isolado da sociedade, não imagino nada mais nefasto no ser humano do que "ser covarde e apontador".... E tu, sempre botando a cara pra bater.... céus!!! repito...que outros anônimos não se insurjam!!!! Luiza

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