Quando se atinge certa idade (o eufemismo, aqui, significa mais de cinqüenta), a gente se torna uma espécie de profeta. É como jogar xadrez. Ao se observar as peças dispostas no tabuleiro, ao se fazer o necessário relacionamento entre causas e efeitos, ao se perceber as potências estáticas e dinâmicas de torres, bispos e cavalos, somos capazes de “sentir” se o jogo resultará em vitória ou derrota.
Assim é na vida.
Trabalhei muitos anos em editora, tenho uma razoável visão da área, que é complicada, pouco rentável e desgastante. Tive alunos e alunas com variados talentos, inclusive empresariais. Mas, poucas vezes, tive por perto alguém com tanta competência editorial quanto a de Rodrigo Rosp.
Guardem este nome.
Henrique Bertaso, Ivan Pinheiro Machado e Roque Jacoby, que foram grandes editores, têm, enfim, um digno concorrente.
Rodrigo Rosp lembra Steve Job, que apostou na Pixar e a transformou num estúdio capaz de concorrer com o de Disney. Nos últimos dois ou três anos, Rosp criou duas editoras, a Não Editora e a Dublinense.
Confesso que nunca gostei da proposta da Não. Palavras são muito poderosas. Aliás, uma hora dessas vou contar aqui histórias sobre o poder da palavra, de como a bomba atômica foi inventada por H. G. Wells, de como Sófocles levou Colombo a descobrir a América, de como um escritor descreveu a primeira e última viagem do Titanic seis anos antes dela acontecer...
Palavras sagram reis, esconjuram tempestades, movem montanhas. A terrível negatividade do nome da editora não a deixará prosperar.
Coloco todas as minhas fichas, depois de espiar em minha bola de cristal, na Dublinense.
Se, como no xadrez, não houver nenhum acidente de percurso, se Rodrigo Rosp não deixar uma Dama no ar, essa pequena editora gaúcha fará uma partida extraordinária.
É bom que o Rodrigo saiba que no xadrez, como na vida, vence quem sabe articular melhor os dois planos do jogo, o tático e o estratégico.
Tática Rosp tem de sobra, falta-lhe ainda melhor estratégia. Mas ela virá com a experiência.
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Sim, o Rosp é um fenômeno. Cheguei a pensar que tivesses alguma rusga com ele. Afinal, falaste mal das noites de autógrafos em bares logo após ele ter organizado uma...
ResponderExcluirAbraços.
Milton,
ResponderExcluiro Rosp é meu aluno de oficina e meus alunos sabem que expresso as minhas opiniões, doa a quem doer. Estrategicamente, o Rosp vai passar a valorizar mais as livrarias, que são muito importantes para um sistema literário eficiente.
Tenho rusgas com meus alunos e eles tem comigo. Sabemos distinguir opinião e amizade, companheirismo. Por isso, eu os respeito tanto. Mas, sempre que percebo equívocos neles, puxo-lhes as orelhas. Como eles puxam as minhas, quando erro.
Entre democratas é assim.
Abraço,
CK
Acho que a Dublinense começa com um grande nome e com um grande mercado.
ResponderExcluirO Rosp é entusiasmado e competente. Terá pela frente o grande enigma: como obter rentabilidade sem abrir mão da qualidade dos textos abrigados sob o seu selo? Os primeiros títulos foram auspiciosos, a sequência é que é o desafio: como resistir ao apelo " pago à vista e em dinheiro " quando o original apresentado está aquém do que ele e grande maioria dos seguidores deste blog possam entender por razoável? Como recusar temáticas que possam " não rimar" com o bom nome Dublinense? Como penetrar nas grandes redes de varejo ( fora a Cultura, que tem uma política simpática aos estreantes e, por isso mesmo, deve ser sempre prestigiada) e dar visibilidade aos seus autores?
Perguntas, perguntas. Há uma multidão silenciosa que aguarda as respostas, com suas esperanças armazenadas em HD, CD, disquetes, Pen drives... e aquela dúvida: espero ou não o kindle se consolidar em português?
Um abraço forte para vocês, ROSP e Charles. E que 2010 seja um bom ano para escritores e editores!
Marcel Citro