Imagino que a noção de predestinação tenha surgido na mente do homem primitivo ao observar as recorrências da natureza, o sol que insiste em retornar todos os dias, as marés que vão e vêm, as estações que se alternam, as estrelas que retornam periodicamente às posições que já ocuparam.
Coincidências são fascinantes. E ensinaram aos artistas que o paralelismo e a repetição reproduzem, na obra, o que à natureza apraz fazer no dia a dia.
Às vezes, numa sala de aula, dois ou três alunos trazem para leitura contos quase idênticos, com o mesmo plot, o mesmo título e os mesmos nomes de personagens. Jung imaginou-nos todos interligados pelo insconsciente coletivo. E a isto que os cientistas chamam de coincidência, ele preferiu chamar de sincronicidade. Que me perdoem os jungianos, mas o mestre era mais poeta que cientista. Aliás, a psicanálise inteira não passa de um ramo da literatura.
Eu mesmo já vivi situações estranhas e exóticas, de coincidências tão significativas que fariam os menos céticos pensarem em destino, moira e forças determinísticas.
Neste O Livro das Coincidências trarei algumas dessas histórias. A primeira que lhes conto é leve.
O livro das coincidências (1)
Na tarde de 31 de dezembro de 2005, enquanto lia, com prazer e espanto, O poema pedagógico, de Anton Makarenko, encontrei uma referência a Ivan Ivanovitch Deníkin (1872-1947), general que comandou o Exército Branco contra os Bolcheviques entre 1918 e 1920. Por um instante, folhei o livro de Makarenko e me quedei a pensar no horror das guerras. Minha leitura foi interrrompida pela visita de uns primos de Marta, Pacheco e Letícia, que chegavam de Brasília.
Depois que eles partiram, já tarde da noite, aproximei-me da biblioteca e levei a mão às escuras. Veio-me um livro de contos de Scott Fitzgerald. Ao abri-lo ao acaso, dei com o conto "O amor à noite". E eis que encontro nova referência ao general Deníkin!
No último dia de 2005, o fantasma do general russo visitou-me duas vezes. Nunca mais retornou.
No meu blog também estou registrando essas sincronicidades.
ResponderExcluirhttp://cassionei.blogspot.com/search/label/Sincronicidades
Tenho dezenas de histórias assim em minha vida. Gosto de Jung, e gosto da teoria da Sincronicidade. Gosto de crer nessas pseudociências... Como disse Hamlet, naquele clássico: "há mais mistérios entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia".
ResponderExcluirE põe vã nisso! Somos, todos, muito metidos a saber das coisas. Do que sabemos, de fato?
abraço
Cesar
Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inumeras vezes, e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez e tu com ela poeirinha da poeira! Nietzsche
ResponderExcluirEnquanto o cristianismo nos promete um outro mundo, o eterno retorno nietzscheano nos atira inapelavelmente e infinitamente neste aqui. Há uma negação radical da religião. Deus morreu.
ResponderExcluirUma coincidência entre tantas que aconteceram na minha vida foi quando eu tinha uns 16 anos. Estava terminando o segundo grau e fui procurar um livro que me ajudasse a escrever melhor. Entrei em uma livraria, entre a Salgado Filho e a Riachuelo, que já não existe mais e fiz o pedido. A pessoa que me atendeu apresentou uns três livros sobre o assunto. Dei uma olhada rápida e escolhi um deles. Alguns anos depois, na Letras da UFRGS, fui aluna de um dos autores do livro: Paulo Coimbra Guedes. Fui monitora dele e somos amigos até hoje. Uma feliz coincidência!
ResponderExcluirViva as coincidências, o acaso, o imprevisto!
Um abraço,
Cátia S.