Saiu, enfim, o tão aguardado livro do professor José Hildebrando Dacanal, no qual ele enxovalharia e destruiria as oficinas literárias.
Aguardei a publicação de Oficinas literárias: caça-níqueis, estelionato e bordel, com tranquilidade, por conhecer o autor, pois fomos amigos por mais de duas décadas, e por saber que mais que destruir, ele tentaria explicar o fenômeno, e por saber que ele ampliaria e aprofundaria a discussão, divertidamente.
Quem conhece o Dacanal sabe que por trás da retórica agressiva há um coração generoso e carente. No alto da montanha, como Zaratustra, ele sente frio. Se nós, que vivemos na planície, pagamos o preço de suas chibatadas, ele, no alto da sua montanha, paga o preço da solidão. Como ele sempre me disse, sou um coloninho ingênuo. Nem por isso deixarei de emprestar-lhe um cobertor.
Li com atenção Oficinas literárias: fraude ou negócio sério? Confesso que eu preferia o título anterior, mais agressivo, mais polêmico e mais comercial.
Li e concordo com muita coisa. Aliás, num artigo que publiquei em Zero Hora, na década de 90, e que incluí em meu livro A última trincheira, eu já argumentava de forma semelhante. O ensaio se chama “O bem e o mal das oficinas literárias”.
A rigor, Dacanal afirma que há oficinas e oficinas. Ele não nega o fenômeno sociológico, não cita nomes, não ofende ninguém. Cumpre, apenas, seu saudável e socrático papel de pedagogo.
Nenhuma oficina literária que se preze afirmará ser capaz de criar escritores. A oficina desenvolve escritores. Aliás, elas se chamam oficinas exatamente por isso, por não serem fábricas de escritores. A fábrica é deus, a confluência entre o biológico e social, a tradição e o DNA. A oficina, como a etimologia desvela, é local de conserto e retoque, de polimento e pintura.
O livro do professor Dacanal é útil, importante e necessário. Ele coloca na pauta da discussão cultural um setor emergente, sobre o qual não se pode mais calar. Há uma semana, por exemplo, o Caderno Mais, da Folha de São Paulo, dedicou várias páginas ao assunto.
Eu já incluía na grande bibliografia de leitura de meus alunos de oficina os outros livros escritos pelo teórico e professor, especialmente o Era uma vez a literatura, bem como os clássicos Ensaios escolhidos e Pontuação: teoria e prática. Agora, acrescento mais este.
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Eu não esperava outra coisa do livro do Dacanal, assim como não esperava outra coisa do teu comentário sobre ele.
ResponderExcluirTu e o Dacanal são duas inteligências raras, com as quais sempre aprendi muito.
ResponderExcluirLi o livro do Dacanal....instigante como tudo o que ele faz, né? Na verdade, mais dúvidas esse livro me deu.... será que sou uma classe média enfastiada, chegando na velhice, com a emoção mais a flor da pele, e então frequento uma oficina para compartilhar com meus iguais... ou será que realmente tenho algo pra dizer e busco ajuda para encontrar uma forma (não fórmula, jamais fórmula...hehehehe) para isso....Céus....quantas dúvidas... e, no decorrer dessas incertezas, muitos continhos a saltar da minha cabeça... Ainda bem que existe tua Oficina, Charles, e deixa o Dacanal falar... beijo, Luiza
ResponderExcluirPois é, acredito, mais uma vez, na tua avaliacao. Nao conheco o autor, mas li a obra, e ela me pareceu preconceituosa. Velhos ricos e desocupados se agrupam para passar o tempo, mais uma caricatura, melhor que dizer que balzaquianas procuram namorados. Uma injustica com tantas pessoas maravilhosas que conheco: Ivan, Norma, Jane, citando alguns legais que me ajudaram a ser um pouco mais sabida. Pintores aprendem e crescem com seus mestres, escritores nascem com dom divino. E eu nao sabia disso.
ResponderExcluirHoje, publico sobre o assunto e o cito, msmo antes de ler este post.
ResponderExcluirAbraço
"Oficinas literárias: caça-níqueis, estelionato e bordel."
ResponderExcluirNão sou prostituto, estelionatário e muito menos néscio.
Lamento profundamente a agressividade e a ignorância deste senhor.
E os oficineiros e seus filhotes, como sempre, falando pra si próprios...pelo menos alguém ganha com isso.
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