domingo, 25 de outubro de 2009

Adjetivar ou não, é uma questão?

Este texto encontra-se agora em Para ser escritor, Editora Leya, 2010.

16 comentários:

  1. Parabéns. Não podem haver regras quando se trata de literatura. Viva o adjetivo, quando é necessário ou, mais ainda, enriquece. Já pensou o "auriverde pendão da minha terra ... as divinas promessas da esperança" sem os adjetivos. Maravilha , lindo! Adjetivo é como jóia ou bijou : tem que saber usar .
    ANA

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  2. Oh, Capitan, my Capitan!
    Me pergunto como descrever internamente um personagem - sem adjetivos. Burroughs vai pra fora: seus personagens são as circunstâncias que experienciam. E Beckett vai pra dentro: sao as histórias que contam. Mas sem adjetivos... Não é imprescindível?... Ou: a velha questão da economia, dizer muito com pouco?
    C. Dall´Agnol
    Abraço

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  3. Como professora de Língua Portuguesa, recorri muitas vezes a textos ricos em adjetivo e tive o trabalho de deletá-los, somente para ver o que o meu aluno colocaria junto ao substantivo para defini-lo, como predicativo. É um exercício surpreendente. Poucos utilizavam o adjetivo empregado pelo autor. Ao susbtituí-lo, expunham, sem nenhum pudor, suas personalidades, seus anseios e carências, enfim, suas vivências.Alguns adjetivos bem contextualizados com o teor do tema, outros aleatórios e totalmente equivocados. Para mim, saber adjetivar é dar colorido, perfume, textura e o significado real que cada nome possui no imaginário do poeta, do escritor. Que triste é um texto despido de adjetivos!! Que pobre se torna a literatura! Pode ser um pó-de-arroz, mas que embeleza... Ah, como embeleza!!

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  4. Ricardo Kroeff26/10/09 08:21

    Nem sabia que alguém pensava que adjetivos empobreciam. Nem sei ainda, não entendi porque eles acham isso...

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Acho que "em tudo que faça, deve o homem ser comedido", como disse um sábio antigo.

    Adjetivar com cautela, sem excessos, é bom e desejável. Agora pense num autor que adjetiva o tempo todo, que entope o leitor de informações (que o adjetivo traz) que não o deixa criar mentalmente as situações... Quem lê sabe: isso é um porre! É como comer em excesso, o leitor sai empanturrado e com dor de cabeça.

    Não me lembro quem é o autor da frase, mas li algo assim, certa vez:

    "Um adjetivo há de se usar com atenção, lembrando-se que há só um único e preciso adjetivo para uma sentença. Quanto a usar dois adjetivos, esqueça. Isso é só para os mestres"

    Abraços, Charles
    Cesar

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  7. Menos é mais, porém sem exagero....
    Luiz Alberto Rossi

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  8. Olá..alguém me disse:- Tu sempre adjetivando em demasia teus textos. E aquilo me corroeu a alma. Queria eu descrever um jardim onde uma cena acontecia. E queria eu dizer o quanto ele era belo, vivo, colorido e outras tantas coisas que contracenando com outros aspectos funestos do texto revelaria toda a magia do momento. Só que eu escrevia com excesso de adjetivos.. E agora me revelas o bom uso possível de se fazer de tão grandiosa classe de palavra. Já estou eu aqui usando-o. Obrigado.

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  9. Eu não sei ao certo o que faço e nem ao menos me sinto privilegiado por isso... preciso de algo que me conduza nem que seja o vomitar dos meus loucos versos... gostei daqui e sentiria felicidade ao ver sua fascinante opinião.. abs.

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  10. Modestamente eu acho que o ponto desta questão poderia estar centrado na demasia... o uso dos adjetivos em demasia seria um pecado cometido contra o texto,não? Um pecado ruim (e me obriguei a usar um adjetivo aqui pois, caso contrário, estaria supondo, equivocadamente, que todo pecado é ruim...)
    Mas confesso que estou sofrendo uma crise de identidade da pseudo escritora que não vive sem os adjetivos..deita, sonha, dorme e acorda com eles.. Assim, na mesma proporção que o uso em demasia pode empobrecer o texto, o manejo de adjetivos em escala proporcional, como aqueles que conseguem transcender à palavra para migrar para o cérebro do leitor trazendo à tona a cor dos sentimentos, o formato dos desejos, e os mistérios das propriedades da alma..... aos meus ouvidos, soam tão pertinentes!

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  11. Adjetivo é o sal do substantivo : demais , dá hipertensão, de menos , desqualifica o gosto da frase. O grande problema é achar a medida certa. Por exemplo, na frase " ... o sol era uma quietude morna planando sobre os campos...,", o morna cabe, enriquece,ou é supérfluo...?
    Abraços, Carlos

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  12. Não há nada de errado com o adjetivo. Nem sequer o considero um recurso "estilístico". Ao lado do substantivo certo, na hora certa, é tão estrutural quanto qualquer outra palavra bem empregada no texto (quem duvida, releia Conrad, ou Sábato). O "problema" é que ele é para os mestres. É a classe de palavra mais exigente que há, não se dobra por pouco. É como a peça difícil para os instrumentistas: torna os bons melhores e os ruins, piores. Nem todo mestre, é claro, sabe usar adjetivos. Este, no entanto, economiza-os, justamente porque não pode dobrá-los, e porque é mestre.

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  13. Enio Roberto28/10/09 11:49

    Depois de ler sobre essa matéria, corri a folhear o modesto Mar quente, livro de estreia que lancei no dia 22.10 na Cultura. Pela vigésima vez, constatei que meus leitores,- ao menos por aquelas palavras que atribuem qualidade, caráter, estado e modo ao substantivo - não irão enfastiarem-se.
    Estando-me à mão o excelente, premiadíssimo, Filho Eterno, dei uma conferida. Nas dez primeiras linhas do romance, contei oito adjetivos. O que dizer?
    Enio Roberto

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  14. Penso que os autores utilizam adjetivos porque querem que o leitor tenha em sua mente a imagem mais próxima da cena como eles imaginaram.
    Enfim, que o leitor tenha todos os detalhese dados para que sinta o mesmo que o escritor imaginou e está querendo expressar em sua obra.
    abraço,
    Leticia

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  15. Perfeito, Charles. Estava há dias para entrar neste post, tinha medo que "mandasses" eliminar os adjetivos o que, para mim, seria um perigo pois sou muito bem mandada.

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  16. João Paulo20/5/10 06:45

    A propósito de adjetivos, reproduzo aqui o que disse dois de nossos maiores homens das letras, sobre esta tão perigosa classe gramatical. Um, o mestre, que escreveu no cap. LXXXVII das páginas das Memórias P. de Brás Cubas - "As outras, as camadas de cima, terra solta e areia, levou-lhas a vida, que é um enxurro perpétuo. Se o leitor ainda se lembra do capítulo XXIII, observará que é agora a segunda vez que eu comparo a vida a um enxurro; mas também há de reparar que desta vez acrescento-lhe um adjetivo — perpétuo. E Deus sabe a força de um adjetivo, principalmente em países novos e cálidos."

    E o nosso Nelson Rodrigues, arguto observador dos costumes da sociedade, de grande senso de humor, nos reservou algo acerca desta espécie em uma de suas tão consagradas máximas: - "Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas."

    Pela minha parte, acho que um adjetivo é bom, quando se faz preciso, e a coisa adjetivada digna de recebê-lo. Acho também que, o adjetivo, tem vínculos muito harmoniosos com algumas coisas, por exemplo - a beleza. Como descrever a beleza sem se valer dum adjetivo?

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