terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um domingo de tsunamis poéticos

Sábado, dia 10 de outubro, estive em Recife, na VII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Com Marcus Accioly, participei de um sarau. Ele declamava um poema, eu lia um conto. Depois daqueles tsunamis produzidos pelos grandes poemas épicos de Accioly, meus contos pareciam buscapés molhados.

A superioridade da poesia sobre a prosa é estonteante. Só a completa vulgarização do mundo podia ter gerado isso que chamamos de ficção.

Foi uma tarde memorável. Temi, antes do evento, que teríamos três ou quatro ouvintes. Tivemos várias dezenas, auditório lotado. Que lá estiveram não para me ouvir, mas para ouvir o poeta.

No domingo, Accioly levou-me a Ilha de Itamaracá, onde ele tem uma casa de praia e vários barcos, além de cães que só faltam falar. Convidou-me a passear em alto-mar, a bordo de uma jangada.

"Nem amarrado", eu disse.

E finquei pé. Garantiu-me que era seguro, que se a jangada virasse não seria problema, ela não afundaria. Mesmo parecendo mal-agradecido, não aceitei o convite. No mar não entro, só em transatlântico, e olhe lá!

Ele perdeu o passeio, eu ganhei uma viagem a mares mais profundos e assutadores. Depois de compreender que eu não subiria naquela jangada de jeito nenhum, aceitou mostrar-me seus livros inéditos.

Assim, passei a manhã ouvindo-o ler trechos de seus 10 livros inéditos.

Fascinado e assombrado, aos 14 anos, na Biblioteca Pública de Três de Maio, eu lia Sísifo de Marcus Accioly. E neste último domingo, ganhei, e autografados, os livros Xilografia, Érato, Narciso, Guriatã e Poética pré-manifesto.

A cada dia mais me convenço de que vivo num estranho país. O maior poeta épico de toda a nossa história, só comparável a Homero, a Dante, a Eliot,  vive quase esquecido em Olinda, enquanto outros, que mais barulho que poesia fazem, são incensados constantemente pela mídia.

Se queremos um país de verdade, e não um arremedo, precisamos valorizar quem tem valor.

Ei, Luciana Villas-Boas, já te indiquei os dois últimos prêmios de literatura de São Paulo, o Cristóvão Tezza e o Altair Martins, e te indico agora, para publicação dos inéditos, e republicação dos livros antigos, o Marcus Accioly. Quando ele, publicado por ti, ganhar os grandes prêmios, me manda um queijo de Minas!

Se algum dos meus leitores imagina exagerada a minha admiração por Accioly, saiba que ele foi admirado também por Augustina Bessa-Luís, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Wilson Martins, Nely Novaes Coelho e Antonio Houaiss, entre muitos outros.

5 comentários:

  1. A poesia é feita de palavras belas e suas rimas que expressam sentimentos.
    O conto retrata histórias que devem ter um bom enredo para encantar o leitor num espaço reduzido de linhas.
    Ambos são duas belas formas de expressão e não vejo superioridade da poesia em relação ao conto.
    Fiquei curiosa para ler as poesias do poeta comentado!
    abraço,

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  2. Blog fantástico. Como eu vivia antes de encontrá-lo? Gostei muito de um texto de junho, sobre o Mario Quintana. Voltarei mais vezes.

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  3. Sempre é bom estar aqui !! Meu carinho.

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  4. "Só a completa vulgarização do mundo podia ter gerado isso que chamamos de ficção." Vou fazer de conta que não li isso, nem que não foste no passeio de jangada.
    Abraço!

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  5. Fiz uma leitura de teus textos. Gostei muito.Apreciei tudo que há por aqui.

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