Os períodos interglaciais, de clima mais temperado, acontecem entre as grandes glaciações, como a etimologia nos diz, e não duram mais de 12 mil anos. E são nesses períodos que nós, humanos, temos a chance de erguermos as nossas civilizações. A cada 100 mil anos, uma rodada de frio intenso, com os glaciares destruindo cidades pelo caminho, eliminando boa parte da flora e da fauna. E aí, um refresco, ou um caloresco, de 12 mil anos, para que a gente possa erguer os nossos templos, as nossas universidades, as nossas choupanas e os nossos castelos.
A revolução industrial deve ter ajudado a atrasar um pouco a nova glaciação que vem por aí. Ao contrário do que diz a mídia e alguns cientistas a serviço do capitalismo, devíamos fazer mais fumacinha para afastar o mais possível um novo período de baixíssimas temperaturas. Com tanta propaganda a favor do aquecimento global eu até já andava me sentindo culpado por usar um carro a gasolina!
Do ponto de vista do destino cósmico, é um grande azar estarmos aqui, exatamente no começo de uma nova época fria, principalmente para mim, que sofro de reumatismo e impaciência com papagaios midiáticos. Os fazedores de opinião reproduzem, ipsis literis, os releases que recebem das editoras, das indústrias farmacêuticas, das instituições bancárias. Nunca, na história da humanidade, foi tão fácil de enganar a tantos com tão pouco esforço!
Mas, do ponto de vista geográfico, nós, os brasileiros, somos uns sortudos, como são os australianos. Vai ver que era por isso que o Brizola gostava tanto da Austrália!
Tanto brasileiros quanto autralianos precisam ser avisados de que o clima, nos dois países, ficará mais chuvoso e mais seco, nas próximas décadas, alternando esses estados como a bolinha da roleta entre o preto e o vernelho. Embora nossos invernos virão a ser mais frios, não chegaremos às montanhas de neve e gelo como no Canadá, EUA e boa parte da Europa.
Alguém, por favor, avise a Dilma, pois o Brasil pode ter vantagens estratégicas fantásticas sobre o resto do mundo nos próximos 20 anos, do ponto de vista da produção de alimentos. Comida, meus irmãos, vai virar objeto raro e caro. Isso se o que vem por aí for só uma miniglaciação e não uma glaciação longa. Como disse alguém, no longo prazo estaremos todos mortos. O que importa é o amanhã, o próximo ano, a próxima década.
Quem olha para a história das artes sem preconceito vai perceber que as miniglaciações produziram artistas fantásticos. Boa parte do segredo dos violinos stradivarius está na madeira do instrumento. O "Messias", que é o violino mais famoso do luthier italiano, é de 1716. O espruce do tampo harmônico, o salgueiro das partes internas e o bordo do fundo e do braço foram temperados pela miniglaciação de 1650.
Talvez, e meio sem querer, como quem atira num mosquito e acerta numa águia, o Vítor Ramil tenha bordejado essa questão no seu interessante A estética do frio.
Em Paris, em 2003, numa mesa redonda na livraria FNAC, eu recusei parte de sua tese. Reconheci que sim, que a temperatura tem um papel importante no pensamento e na reflexão. Quem não pode ir à praia, fica em casa lendo, e isso melhora sua condição intelectual. Eu só não concordo com as derivações que o Vitor faz a respeito do frio sobre a nossa literatura. Penso que, neste período interglacial que nos coube viver aqui na fronteira Sul, o frio não teve tanta importância assim para a literatura gaúcha. A revolução farroupilha, o positivismo, o Brizola e o IEL, por exemplo, foram mais importantes que o vento minuano. Ou seja, para mim, aqui no Estado, a política teve um papel fundamental. O Tarso prometeu ontem, numa janta em que estivemos no Palácio Piratini, que viveremos novos tempos áureos na cultura. Ele já começou bem, escolhendo Assis Brasil para dirigir a Secretaria que cuida desse assunto.
Durante a nova miniglaciação, quando nossos invernos forem mais rigorosos do que já são, recolhidos e meio encarangados, finalmente os escritores gaúchos terão tempo de estudar, de escrever mais, de ler uns aos outros. Dostoievski, por exemplo, a quarenta graus negativos, escrevia que era uma beleza!
Tudo na vida e na história tem dois lados, como o spin.
Se tivermos políticas públicas de qualidade os prejuízos de uma miniglaciação poderão ser minimizados. Uma grande biblioteca pública, com acervo atualizado, com um bom aquecimento interno, fará maravilhas quando as massas congeladas procurarem abrigo ali na Praça da Matriz. Já falei numa entrevista de TV sobre a importância da calefação na Europa, especialmente nas bibliotecas públicas, para o incremento dos índices de leitura.
O Obama, que não dorme de toca, já tem uma nova capital preparada para recebê-lo, no meio oeste, onde as temperaturas futuras serão um pouco mais amenas que na costa leste. Os gringos gastaram 100 bilhões de dólares com as novas facilities. É que eles, Macunaíma, tem políticas de longo prazo.
Dilma, que é uma estrategista, e que vem da área técnica, seguirá os bons exemplos?
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a verdade é que o aquecimento global está protelando uma era glacial e as atuais concentrações de gases do efeito estufa são provavelmente similares aquelas ocorridas há três milhões de anos e estas são altas o bastante para impedir uma era glacial por milhões de anos.Qto à Dilma, é claro, que ela, com sua visão igual ao do Obama ja demonstrou a que veio....e o Tarso tb iniciou seu governo, magnificamente, nomeando o nobre intelectual, escritor e professor o renomado Assis Brasil.
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