Muitas vezes, a caminho de uma Agência dos Correios e Telégrafos, rasguei cartas que iria enviar. Entre o tempo da escritura e a remessa da carta, o coração serenara, e o que era mágoa, desilusão ou simples raiva transformara-se em outra coisa, perdão, compreensão ou simpatia pelos erros alheios.
No tempo das carruagens, o mal também se movimentava com lentidão. Ao menos, o mal epistolográfico.
Hoje, não. Hoje, quando nos damos conta, a ofensa já partiu à velocidade da luz.
Não conheço a experiência dos meus leitores, mas eu, mesmo sem querer, já magoei algumas pessoas por e-mail. Ou porque não refleti suficientemente antes de enviá-lo; ou porque o destinatário – na sua pressa igual a minha – leu mal e interpretou o conteúdo equivocadamente.
Ganhamos em rapidez e comodidade com a advento do e-mail, mas estamos perdendo em humanidade e delicadeza.
Os deuses, como diziam os fenícios, e que Fernando Pessoa plagiou, vendem quando dão.
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Um bom hábito é salvar como rascunho o e-mail escrito sob cólera, que provavelmente será apagado após releitura no dia seguinte. Neste meio tempo que tal uma caminhada nostálgica até os correios? :-)
ResponderExcluirExcelentes sugestões, Luciano!
ResponderExcluirAbraço,
CK
Charles,
ResponderExcluirTalvez devessemos ter uma função, em nossos programas de correio eletrônico que, na primeira vez que enviássemos uma mensagem, ela sofresse um retardo e voltasse para nós mesmos. Assim poderíamos sentir, ainda que de forma menor, o impacto de recebê-la. Se ainda assim, quiséssemos enviá-la ao destinatário, o programa aceitaria isto na segunda vez. Caso contrário, shift+delete.
Um grande abraço
Eduardo Sommer
Na verdade, a sugestão do Luciano é uma adaptação contemporânea do ensinamento de Abrahan Lincoln: "quando tiverdes de enviar uma carta dura a um desafeto, escreva-a e a deixe a descansar em uma gaveta por uma semana antes de enviá-la. Possivelmente você não a enviará após este prazo".
ResponderExcluirSim, Charles, já me arrependi de emails que enviei... Aliás, em emails de trabalho, aprendi que se deve ser bastante econômico. O que abunda atrapalha, cai bem aqui. Ou, como você diria, há de se evitar o "estilo adiposo".
Abraço
Cesar
Charles.
ResponderExcluirLincoln estava certo, só que às vezes o tempo pode superar o de uma semana... E isso também vale para conversas. Muito melhor é adiar uma conversa que poderia se tornar um embate e assim conseguimos administrar melhor os conflitos.
Beijos, Naiana.
Breve e direto ao ponto. Já me arrependi e muito. A tecnologia já me proporcionou momentos bastante difíceis e que certamente seriam poupados com um bom e "velho" "olhos nos olhos"... Mas a gente vai aprendendo a driblar isso e tentar usar só o que a tecnologia tem de bom, como matar a saudade de um professor através do blog! :)
ResponderExcluirBeijo!
É verdade..acionando o pensamento com a mesma velocidade que se aciona o botão enviar! Quem já não cometeu um desatino, e magoou alguém por email... e o pior, sem intenção. Eu também já o fiz. Mas pelo menos neste caso há possibilidade de retratação imediata!
ResponderExcluirPara mim essa tecnologia é inimiga dos que como eu, são distraídos, e podem fazer coisas do tipo clicar no "responder a todos" quando a intenção era dizer algo somente para o remetente. Ai pode complicar....
Tua ponderação me fez lembrar da música de Jorge Drexler, diz respeito um pouco sobre o tema.
http://www.youtube.com/watch?v=sMem2cAiif8
A Marta Medeiros numa crônica, recentemente, criticou o sinal de riso, os tão usados: rsrssrsrs ou hehehehe.
ResponderExcluirEu, no entanto, acho muito útil, pois o e-mail nos permite uma linguagem coloquial, mas sem que interlocutor possa ver a espressão de nosso rosto. Daí é possível resultar em confusões, uma brincadeira,que pessoalmente seria engraçada, na tela pode geral um mal entendido. O sinalzinho "amigo" de riso, pode nos evitar muita saia justa. Abraços. Graça
caro Ck, acho que vou contra a maré. Penso que o e-mail e mensagens apressadas podem também ter sua validade. O impulso pode ser, por vezes, a única forma de expressarmos o que realmente queremos dizer. Um stream-of-consciouness virtual pode não ser agradável ou acessível a quem recebe, mas será, com certeza, expressão sem filtros de quem envia. Nem sempre toleramos o que vem do outro, mas acho que devemos lidar com o que produzimos no outro.
ResponderExcluirRicardo Silveira
Infelizmente, não só as ofensas andam à velocidade da luz como a repercussão destas. O âmbito privado está cada vez mais sendo devassado.
ResponderExcluirAbraço,
Cátia
Eu acho interessante essa velocidade.
ResponderExcluirPouco abro meu e-mail, mais raramente ainda mando algum. Me relaciono com algumas pessoas por uma outra rede social, marco encontros, indico livros, leio poemas e contos de amigos, mostro alguns que produzo. E tudo, dentro dessa era da velocidade. Mas com passos de tartaruga. Meus amigos até já se acostumaram. Geralmente demoro uns 3 dias para escrever cartas virtuais. Tenho um blog e quase não publiquei meus contos neles, fico esperando um retoque aqui, outro acolá. Acabo esquecendo de digitalizar.
A velocidade da luz é uma benção dos deuses-astronautas, cientistas de vênus. Basta a sabedoria de um jovem-ancião ou semi-deus para controlá-la.
Já dizia Nelson Rodrigues, "que achava a velocidade um prazer de cretinos." Na ocasião, falava sobre a deleitosa vagarosidade dos bondes, que pareciam não chegar nunca. Mas eu acho que, o primeiro trecho da citação, vem muito a calhar.
ResponderExcluirAbraço, Sr. Charles.
Por volta de 1850 Victor Hugo disse:
ResponderExcluir"Pessoal, prestem atenção às coisas que vocês dizem" porque "a palavra é o verbo e o verbo é Deus".
Então, pessoal, não importa como e em que velocidade a palavra de desloca, depois de dita ela não nos pertence mais. Prestemos, pois, atenção às coisas que são ditas.
Ayalla de Aguiar
Acho que todos nos identificamos com este post. A internet deu à escrita a velocidade do oral e, como bem lembrou a Ayalla, a palavra dita pode até ser consertada mas não mais recolhida.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ como diz o ditado: há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida...ja me arrependi amargamente por ter agredido, sem querer, usando esta máquina assustadora, que é a internet.Mas sempre é possível pedir perdão e recomeçar...bjss
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