quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Antes que a Feira do Livro de Porto Alegre desapareça!

Escritor mente, político mente, todos mentem, mas a matemática não mente. Se não mentem os números apresentados pela Câmara Rio-Grandense do Livro, números consignados nos balanços de finais de feira, a maior festa literária de nossa cidade está definhando.

Vamos aos números, que eles são apolíticos, não têm ideologia, servem apenas para a interpretação da realidade, por mais dura que ela seja.

Em 2005, a Feira do Livro vendeu 530.980 exemplares; em 2006, vendeu 472.348 exemplares; em 2007, vendeu 459.521 exemplares; e, em 2008, vendeu 424.046 exemplares. Uma retração, em quatro anos, de 106.934 exemplares! É pouco? Vinte por cento de queda nas vendas é pouco? Arrisco um palpite: em menos de 10 anos, estaremos vendendo, no máximo, 200 mil exemplares por edição da feira!

Alguém aí poderia me dizer quantos automóveis foram vendidos, ano a ano, em Porto Alegre, desde 2005? Garanto que lá, nas revendas automotivas, naquele produto um “pouco” mais caro que o livro, houve uma evolução muito positiva. Ou não?

Senhores, a Feira do Livro de Porto Alegre está se encolhendo rapidamente. Se as nossas estratégias não forem alteradas, e elas não são simples, e não há espaço aqui para discuti-las, os nossos filhos serão obrigados a “fechar o bolicho”, como se dizia na minha terra natal.

Discurso é discurso, comércio é comércio. Discurso vive de ilusão, de fantasia, de desejo sublimado. Comércio vive do tilintar das moedas. E sem moedas, o discurso se transforma em saudade do passado. Não é de hoje que murmuramos pelas alamedas floridas da praça, “como eram boas as feiras de antanho”! Mais um pouco e faremos um Centro de Tradições da Feira do Livro!

Urge convocar a sociedade local para um amplo e profundo seminário sobre as estratégias para o futuro da feira. Como apaixonado pelo evento, e seu participante desde 1977, convoco a CRL, a Prefeitura, o Governo do Estado, a Imprensa, as Associações de Escritores, a Câmara de Vereadores, o Parlamento Gaúcho e demais interessados, para uma reflexão sobre o assunto. Se meu discurso não convence, atentem para os números. Eles são silenciosos, frios e irretorquíveis!

Ou, nas próximas edições, os antigos freqüentadores da feira ficarão em casa, lendo os seus e-books, navegando na Internet, fazendo palavras cruzadas! E eu vou abrir uma empresa de pronta-entrega de pipocas!

Charles Kiefer

10 comentários:

  1. Giovana Lima12/11/09 13:38

    A situação é séria. Importante lembrar que o contato físico com o livro é insubstituível e os amantes da leitura não deixarão manusear um livro. Sugiro que os organizadores da feira façam campanhas de divulgação em escolas, com incentivos à leitura, que os preços dos livros tornem-se mais acessíveis para que possamos comprar bons textos com custos menores. Infelizmente nosso poder aquisitivo não é consoante à vontade de comprar, comprar e comprar livros à mão cheia...Kiefer levantou a bandeira...

    ResponderExcluir
  2. hahahahahahaha
    Muito boa a idéia de abrir uma pronta-entrega de pipocas.
    Vou ser o primeiro cliente.
    O patrono da feira do livro do ano que vem pode ser o Kindle.
    Agora, falando sério:
    Porque não fazer um seminário sobre o futuro do livro?

    ResponderExcluir
  3. Uma lástima que isto esteja acontecendo ...

    ResponderExcluir
  4. Escrevi rapidamente a respeito hoje. Discordamos.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Já tinha lido o artigo na Zero Hora. Concordo inteiramente. O que sigo sem entender é por que análises sociológicas maduras, amparadas em princípios básicos de Economia e Estatística ainda encontram tanta resistência por aqui.

    ResponderExcluir
  7. Acho que é por que não há mais espaço para folhear os livros, transitar pela Feira. As pessoas que realmente amam os livros estão indo às livrarias. São mais tranquilas, seguras, com estacionamento, ar condicionado, sem esbarrões, pisadas e com o mesmo desconto.Há muita gente e pouco acesso aos livros.

    ResponderExcluir
  8. No passado, ir em uma livraria era coisa de outro mundo: os livros ficavam em estantes distantes; se quisesse ver um livro, o cara da loja pegava pra você, e ficava te cuidando. Naquele tempo, a Feira era importante. Uma das únicas oportunidades de ficar cara-a-cara com os livros. Hoje não: se quiser, pode ler o livro todo na livraria, com ar-condicionado, em poltrona confortável... não tem porque esperar pela Feira. Enquanto a Feira se focar estritamente nas vendas, vai continuar caindo, enquanto as Jornadas Literárias do interior (que se focam na literatura, e não na venda) crescem a todo vapor.

    ResponderExcluir
  9. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  10. A matematica é perfeita e por isso q num pais onde 1/4 da polulaçao vive na miseria, como é q vai sobrar tempo (e dinheiro, naturalmente) para um bom momento de leitura??
    A soluçao é alimentar o povo, educar-lo para que possa trabalhar dignamente e depois, no fim do mes, com certeza que comprara livros do seus autores preferidos!!! Serao tempos diferentes, onde os campeoes de venda ja nao serao os livros de auto-ajuda. Aha.

    ResponderExcluir