Parabéns. Não podem haver regras quando se trata de literatura. Viva o adjetivo, quando é necessário ou, mais ainda, enriquece. Já pensou o "auriverde pendão da minha terra ... as divinas promessas da esperança" sem os adjetivos. Maravilha , lindo! Adjetivo é como jóia ou bijou : tem que saber usar . ANA
Oh, Capitan, my Capitan! Me pergunto como descrever internamente um personagem - sem adjetivos. Burroughs vai pra fora: seus personagens são as circunstâncias que experienciam. E Beckett vai pra dentro: sao as histórias que contam. Mas sem adjetivos... Não é imprescindível?... Ou: a velha questão da economia, dizer muito com pouco? C. Dall´Agnol Abraço
Como professora de Língua Portuguesa, recorri muitas vezes a textos ricos em adjetivo e tive o trabalho de deletá-los, somente para ver o que o meu aluno colocaria junto ao substantivo para defini-lo, como predicativo. É um exercício surpreendente. Poucos utilizavam o adjetivo empregado pelo autor. Ao susbtituí-lo, expunham, sem nenhum pudor, suas personalidades, seus anseios e carências, enfim, suas vivências.Alguns adjetivos bem contextualizados com o teor do tema, outros aleatórios e totalmente equivocados. Para mim, saber adjetivar é dar colorido, perfume, textura e o significado real que cada nome possui no imaginário do poeta, do escritor. Que triste é um texto despido de adjetivos!! Que pobre se torna a literatura! Pode ser um pó-de-arroz, mas que embeleza... Ah, como embeleza!!
Acho que "em tudo que faça, deve o homem ser comedido", como disse um sábio antigo.
Adjetivar com cautela, sem excessos, é bom e desejável. Agora pense num autor que adjetiva o tempo todo, que entope o leitor de informações (que o adjetivo traz) que não o deixa criar mentalmente as situações... Quem lê sabe: isso é um porre! É como comer em excesso, o leitor sai empanturrado e com dor de cabeça.
Não me lembro quem é o autor da frase, mas li algo assim, certa vez:
"Um adjetivo há de se usar com atenção, lembrando-se que há só um único e preciso adjetivo para uma sentença. Quanto a usar dois adjetivos, esqueça. Isso é só para os mestres"
Olá..alguém me disse:- Tu sempre adjetivando em demasia teus textos. E aquilo me corroeu a alma. Queria eu descrever um jardim onde uma cena acontecia. E queria eu dizer o quanto ele era belo, vivo, colorido e outras tantas coisas que contracenando com outros aspectos funestos do texto revelaria toda a magia do momento. Só que eu escrevia com excesso de adjetivos.. E agora me revelas o bom uso possível de se fazer de tão grandiosa classe de palavra. Já estou eu aqui usando-o. Obrigado.
Eu não sei ao certo o que faço e nem ao menos me sinto privilegiado por isso... preciso de algo que me conduza nem que seja o vomitar dos meus loucos versos... gostei daqui e sentiria felicidade ao ver sua fascinante opinião.. abs.
Modestamente eu acho que o ponto desta questão poderia estar centrado na demasia... o uso dos adjetivos em demasia seria um pecado cometido contra o texto,não? Um pecado ruim (e me obriguei a usar um adjetivo aqui pois, caso contrário, estaria supondo, equivocadamente, que todo pecado é ruim...) Mas confesso que estou sofrendo uma crise de identidade da pseudo escritora que não vive sem os adjetivos..deita, sonha, dorme e acorda com eles.. Assim, na mesma proporção que o uso em demasia pode empobrecer o texto, o manejo de adjetivos em escala proporcional, como aqueles que conseguem transcender à palavra para migrar para o cérebro do leitor trazendo à tona a cor dos sentimentos, o formato dos desejos, e os mistérios das propriedades da alma..... aos meus ouvidos, soam tão pertinentes!
Adjetivo é o sal do substantivo : demais , dá hipertensão, de menos , desqualifica o gosto da frase. O grande problema é achar a medida certa. Por exemplo, na frase " ... o sol era uma quietude morna planando sobre os campos...,", o morna cabe, enriquece,ou é supérfluo...? Abraços, Carlos
Não há nada de errado com o adjetivo. Nem sequer o considero um recurso "estilístico". Ao lado do substantivo certo, na hora certa, é tão estrutural quanto qualquer outra palavra bem empregada no texto (quem duvida, releia Conrad, ou Sábato). O "problema" é que ele é para os mestres. É a classe de palavra mais exigente que há, não se dobra por pouco. É como a peça difícil para os instrumentistas: torna os bons melhores e os ruins, piores. Nem todo mestre, é claro, sabe usar adjetivos. Este, no entanto, economiza-os, justamente porque não pode dobrá-los, e porque é mestre.
Depois de ler sobre essa matéria, corri a folhear o modesto Mar quente, livro de estreia que lancei no dia 22.10 na Cultura. Pela vigésima vez, constatei que meus leitores,- ao menos por aquelas palavras que atribuem qualidade, caráter, estado e modo ao substantivo - não irão enfastiarem-se. Estando-me à mão o excelente, premiadíssimo, Filho Eterno, dei uma conferida. Nas dez primeiras linhas do romance, contei oito adjetivos. O que dizer? Enio Roberto
Penso que os autores utilizam adjetivos porque querem que o leitor tenha em sua mente a imagem mais próxima da cena como eles imaginaram. Enfim, que o leitor tenha todos os detalhese dados para que sinta o mesmo que o escritor imaginou e está querendo expressar em sua obra. abraço, Leticia
Perfeito, Charles. Estava há dias para entrar neste post, tinha medo que "mandasses" eliminar os adjetivos o que, para mim, seria um perigo pois sou muito bem mandada.
A propósito de adjetivos, reproduzo aqui o que disse dois de nossos maiores homens das letras, sobre esta tão perigosa classe gramatical. Um, o mestre, que escreveu no cap. LXXXVII das páginas das Memórias P. de Brás Cubas - "As outras, as camadas de cima, terra solta e areia, levou-lhas a vida, que é um enxurro perpétuo. Se o leitor ainda se lembra do capítulo XXIII, observará que é agora a segunda vez que eu comparo a vida a um enxurro; mas também há de reparar que desta vez acrescento-lhe um adjetivo — perpétuo. E Deus sabe a força de um adjetivo, principalmente em países novos e cálidos."
E o nosso Nelson Rodrigues, arguto observador dos costumes da sociedade, de grande senso de humor, nos reservou algo acerca desta espécie em uma de suas tão consagradas máximas: - "Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas."
Pela minha parte, acho que um adjetivo é bom, quando se faz preciso, e a coisa adjetivada digna de recebê-lo. Acho também que, o adjetivo, tem vínculos muito harmoniosos com algumas coisas, por exemplo - a beleza. Como descrever a beleza sem se valer dum adjetivo?
Parabéns. Não podem haver regras quando se trata de literatura. Viva o adjetivo, quando é necessário ou, mais ainda, enriquece. Já pensou o "auriverde pendão da minha terra ... as divinas promessas da esperança" sem os adjetivos. Maravilha , lindo! Adjetivo é como jóia ou bijou : tem que saber usar .
ResponderExcluirANA
Oh, Capitan, my Capitan!
ResponderExcluirMe pergunto como descrever internamente um personagem - sem adjetivos. Burroughs vai pra fora: seus personagens são as circunstâncias que experienciam. E Beckett vai pra dentro: sao as histórias que contam. Mas sem adjetivos... Não é imprescindível?... Ou: a velha questão da economia, dizer muito com pouco?
C. Dall´Agnol
Abraço
Como professora de Língua Portuguesa, recorri muitas vezes a textos ricos em adjetivo e tive o trabalho de deletá-los, somente para ver o que o meu aluno colocaria junto ao substantivo para defini-lo, como predicativo. É um exercício surpreendente. Poucos utilizavam o adjetivo empregado pelo autor. Ao susbtituí-lo, expunham, sem nenhum pudor, suas personalidades, seus anseios e carências, enfim, suas vivências.Alguns adjetivos bem contextualizados com o teor do tema, outros aleatórios e totalmente equivocados. Para mim, saber adjetivar é dar colorido, perfume, textura e o significado real que cada nome possui no imaginário do poeta, do escritor. Que triste é um texto despido de adjetivos!! Que pobre se torna a literatura! Pode ser um pó-de-arroz, mas que embeleza... Ah, como embeleza!!
ResponderExcluirNem sabia que alguém pensava que adjetivos empobreciam. Nem sei ainda, não entendi porque eles acham isso...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcho que "em tudo que faça, deve o homem ser comedido", como disse um sábio antigo.
ResponderExcluirAdjetivar com cautela, sem excessos, é bom e desejável. Agora pense num autor que adjetiva o tempo todo, que entope o leitor de informações (que o adjetivo traz) que não o deixa criar mentalmente as situações... Quem lê sabe: isso é um porre! É como comer em excesso, o leitor sai empanturrado e com dor de cabeça.
Não me lembro quem é o autor da frase, mas li algo assim, certa vez:
"Um adjetivo há de se usar com atenção, lembrando-se que há só um único e preciso adjetivo para uma sentença. Quanto a usar dois adjetivos, esqueça. Isso é só para os mestres"
Abraços, Charles
Cesar
Menos é mais, porém sem exagero....
ResponderExcluirLuiz Alberto Rossi
Olá..alguém me disse:- Tu sempre adjetivando em demasia teus textos. E aquilo me corroeu a alma. Queria eu descrever um jardim onde uma cena acontecia. E queria eu dizer o quanto ele era belo, vivo, colorido e outras tantas coisas que contracenando com outros aspectos funestos do texto revelaria toda a magia do momento. Só que eu escrevia com excesso de adjetivos.. E agora me revelas o bom uso possível de se fazer de tão grandiosa classe de palavra. Já estou eu aqui usando-o. Obrigado.
ResponderExcluirEu não sei ao certo o que faço e nem ao menos me sinto privilegiado por isso... preciso de algo que me conduza nem que seja o vomitar dos meus loucos versos... gostei daqui e sentiria felicidade ao ver sua fascinante opinião.. abs.
ResponderExcluirModestamente eu acho que o ponto desta questão poderia estar centrado na demasia... o uso dos adjetivos em demasia seria um pecado cometido contra o texto,não? Um pecado ruim (e me obriguei a usar um adjetivo aqui pois, caso contrário, estaria supondo, equivocadamente, que todo pecado é ruim...)
ResponderExcluirMas confesso que estou sofrendo uma crise de identidade da pseudo escritora que não vive sem os adjetivos..deita, sonha, dorme e acorda com eles.. Assim, na mesma proporção que o uso em demasia pode empobrecer o texto, o manejo de adjetivos em escala proporcional, como aqueles que conseguem transcender à palavra para migrar para o cérebro do leitor trazendo à tona a cor dos sentimentos, o formato dos desejos, e os mistérios das propriedades da alma..... aos meus ouvidos, soam tão pertinentes!
Adjetivo é o sal do substantivo : demais , dá hipertensão, de menos , desqualifica o gosto da frase. O grande problema é achar a medida certa. Por exemplo, na frase " ... o sol era uma quietude morna planando sobre os campos...,", o morna cabe, enriquece,ou é supérfluo...?
ResponderExcluirAbraços, Carlos
Não há nada de errado com o adjetivo. Nem sequer o considero um recurso "estilístico". Ao lado do substantivo certo, na hora certa, é tão estrutural quanto qualquer outra palavra bem empregada no texto (quem duvida, releia Conrad, ou Sábato). O "problema" é que ele é para os mestres. É a classe de palavra mais exigente que há, não se dobra por pouco. É como a peça difícil para os instrumentistas: torna os bons melhores e os ruins, piores. Nem todo mestre, é claro, sabe usar adjetivos. Este, no entanto, economiza-os, justamente porque não pode dobrá-los, e porque é mestre.
ResponderExcluirDepois de ler sobre essa matéria, corri a folhear o modesto Mar quente, livro de estreia que lancei no dia 22.10 na Cultura. Pela vigésima vez, constatei que meus leitores,- ao menos por aquelas palavras que atribuem qualidade, caráter, estado e modo ao substantivo - não irão enfastiarem-se.
ResponderExcluirEstando-me à mão o excelente, premiadíssimo, Filho Eterno, dei uma conferida. Nas dez primeiras linhas do romance, contei oito adjetivos. O que dizer?
Enio Roberto
Penso que os autores utilizam adjetivos porque querem que o leitor tenha em sua mente a imagem mais próxima da cena como eles imaginaram.
ResponderExcluirEnfim, que o leitor tenha todos os detalhese dados para que sinta o mesmo que o escritor imaginou e está querendo expressar em sua obra.
abraço,
Leticia
Perfeito, Charles. Estava há dias para entrar neste post, tinha medo que "mandasses" eliminar os adjetivos o que, para mim, seria um perigo pois sou muito bem mandada.
ResponderExcluirA propósito de adjetivos, reproduzo aqui o que disse dois de nossos maiores homens das letras, sobre esta tão perigosa classe gramatical. Um, o mestre, que escreveu no cap. LXXXVII das páginas das Memórias P. de Brás Cubas - "As outras, as camadas de cima, terra solta e areia, levou-lhas a vida, que é um enxurro perpétuo. Se o leitor ainda se lembra do capítulo XXIII, observará que é agora a segunda vez que eu comparo a vida a um enxurro; mas também há de reparar que desta vez acrescento-lhe um adjetivo — perpétuo. E Deus sabe a força de um adjetivo, principalmente em países novos e cálidos."
ResponderExcluirE o nosso Nelson Rodrigues, arguto observador dos costumes da sociedade, de grande senso de humor, nos reservou algo acerca desta espécie em uma de suas tão consagradas máximas: - "Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas."
Pela minha parte, acho que um adjetivo é bom, quando se faz preciso, e a coisa adjetivada digna de recebê-lo. Acho também que, o adjetivo, tem vínculos muito harmoniosos com algumas coisas, por exemplo - a beleza. Como descrever a beleza sem se valer dum adjetivo?