terça-feira, 13 de abril de 2010

Entrevista com Fernando Portela

Dei uma longa entrevista para Fernando Portela, sobre oficinas literárias. A Revista da Cultura já está circulando, com a matéria final. Como o jornalista aproveitou três ou quatro parágrafos das 23 páginas de nosso diálogo, reproduzo-o em sua totalidade aqui. Já fui editor de jornal e conheço bem a guerra por espaços. Felizmente, a internet nos permite driblar a imposição do corte. Assim, nem o meu trabalho nem o do Fernando ficam aviltados e os nossos leitores podem conferir a totalidade da conversa.


Entrevista com Fernando Portela


Revista da Cultura


São Paulo


14 de fevereiro de 2010

Fernando: A informação que recebi diz que você tem sua oficina e também faz oficinas na PUC. Para não cometer nenhum erro, gostaria que isso fosse esclarecido, OK?

Kiefer: Tenho 7 grupos de oficina na Livraria Palavraria, em Porto Alegre. Cada grupo tem 15 alunos. Sou, também, professor de Escrita Criativa, Produção de Textos Poéticos e Oficina de Criação Literária, na PUC do Rio Grande do Sul. São mais 5 grupos, pois tenho 3 turmas de Escrita Criativa. Cada grupo tem entre 30 e 40 alunos. Além disso, tenho uma empresa, a Oficina Literária Charles Kiefer e Editora Ltda, onde tenho mais alguns grupos, e onde trabalham comigo, dando cursos e oficinas os escritores Luiz Antonio de Assis Brasil, Moacyr Scliar, Luis Fernando Veríssimo, Armindo Trevisan, Donaldo Schuller, Regina Zilberman, Luciano Alabarse, Sergius Gonzaga etc. São mais de 400 alunos.

F: Gostaria também que me comentasse (não é uma pergunta) o fato de tanta gente, no Brasil inteiro, procurar oficinas literárias, cursos de escrita ou o nome que se queira dar a quem gostaria de escrever melhor. Ora, não somos um País inimigo dos livros?

K: Não, não somos inimigos dos livros. Talvez o centro (SP-Rio) ignore o que se faz na periferia. Em Passo Fundo, a Jornada Nacional de Literatura, dirigida por Tania Rösling, reúne mais de 25 mil professores de literatura, a cada dois anos. Nós, escritores gaúchos, temos o nosso mercado aqui mesmo, no Sul. Sem querer ir muito longe, já vendi mais de 350 mil livros. Trezentos mil com a Editora Mercado Aberto (do RS). E 38.827 com a Editora Record (Rio), até a última prestação de contas. Sem contar aí com os livros que vendi pela WS Editor, Editora Artes & Ofícios (mais de 7.500), Ática, Manole, Nova Alexandria, FTD, Círculo do Livro (antigo) etc. Mais o que foi vendido na França, em Portugal.

F: Não detestamos ler?

K: Não, não detestamos. O que se lê de Bíblia, livros espíritas, livros independentes nunca é contabilizado. As estatísticas é que são caolhas.

F: A Argentina nos é passada na cara todo o tempo: lá eles lêem, consomem não sei quantos livros por ano, etc.

K: A Argentina consome, per capita, 5 a 6 livros. O RS consome 5,6 (cinco vírgula seis) livros per capita. A França consome 7. Não vejo em que sentido consumimos poucos livros. E se incluíssem aí os livros não contabilizados, a média subiria muito.

F: Se a gente não gosta, por que tanto curso, oficina, encontros com essa finalidade?

K: Creio que as respostas anteriores resolvem esse dilema.

F: Há quanto tempo você ensina o pessoal a escrever?

K: Há mais de 20 anos.

F: Como entrou nisso?

K: Em 1986, fui o escritor brasileiro no International Writing Program, da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Lá, vi que as oficinas literárias, em países desenvolvidos, eram comuns. Ao retornar ao Brasil, abri a minha primeira oficina, na Casa de Cultura Mario Quintana. Tive 3 alunos, na primeira turma. Nunca mais parei. Hoje, tenho centenas de alunos, vários milhares já passaram pelas minhas oficinas, e tenho uma lista de espera com mais de 1.400 pessoas.

K: Em geral, todo escritor, jornalista, publicitário tem, lá na adolescência, um guru, em geral um professor de português. "Escreva que você tem jeito pra isso". As pessoas que você recebe já vêm com interesse despertado?

K: De certa forma, sim. Aceito somente alunos adultos, de preferência cursando ou com curso superior completo. Meus alunos e alunas são médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, psiquiatras, psicólogos, psicanalistas etc. O que menos tenho são professores de literatura, mas aí o problema é custo. Em geral, professores ganham tão pouco que não consegue pagar oficina.

F: Ou querem escrever melhor por algum outro motivo?

K: Os motivos são os mais variados. Necessidade de expressão, vaidade, dinheiro. Há um certo fetiche em escrever. Aquele dístico de Confúcio ou Lao Tsé, de que para ser um ser humano completo é preciso plantar uma árvore, criar um filho e escrever um livro, é muito emulador.

F:Jovens blogueiros?

K: Nos últimos anos, começaram a surgir os internautas também. Eu mesmo tenho blogs (http://charleskiefer.blogspot.com e http://gosteimuito.blogspot.com além de outros) e incentivo meus alunos a que os tenham também. É uma boa ferramenta de teste, de exercício e de formação de público-leitor.

F: Madame com tempo de sobra?

K: É o que menos aparece. Madame com tempo de sobra vai pro Shopping.

F: Terceira idade em busca de saúde mental?

K: Depende muito do horário em que a oficina é oferecida. Por exemplo, as turmas de sábado (já tive três, agora reduzi para duas, por cansaço), os participantes são todos em idade produtiva, profissionalmente. Fazem aos sábados por falta de tempo durante a semana.

F: Quem são os alunos no sul?

K: Já respondido anteriormente.

F: Pelo jeito, os alunos de São Paulo, Rio Grande do Sul e Brasília são bem diferentes entre si. Será que o pessoal do Sul gosta mais de escrever? Dizem que os nordestinos são mais chegados... Acho que não há números sobre isso.

K: Creio que são mitos. Se fizerem uma estatística séria, verão que não há diferença. O que se sabe, estatisticamente, é que o Sul lê mais (do Rio de Janeiro para baixo). Mas aí entra poder aquisitivo, qualidade de educação, formação mais européia, políticas públicas mais eficientes etc). Pesquisa de mercado sem contexto sócio-histórico vira empulhação.

F: Quanto tempo dura uma oficina?

K: Nesse sentido, minhas oficinas são bem diferentes do que existe por aí. As minhas oficinas têm início, mas não têm fim. No grupo de sábado de manhã, por exemplo, alguns alunos estão comigo há 16 anos. Outros há 10, 8 anos.

F: Quantas pessoas numa sala?

K: 15 participantes (na Palavraria). 12 participantes (na minha empresa). 30 ou 40 participantes, na PUC.

F: É possível dar uma ideia do que acontece no começo, meio e fim do curso?

K: Assim como a Natura e a Coca-cola não revelam o segredo de suas fórmulas, eu também não. Prefiro que se observem os resultados (livros publicados por meus alunos e concursos vencidos por meus alunos). O que posso dizer é que cada grupo tem bibliografia e produção diferentes, pois respeito a individualidade de cada um deles. Dá um trabalho extraordinário, mas é isso que faz a diferença.

F: Quais são os livros – ou estilos – sugeridos durante o processo?

K: Respondido anteriormente.

F: Hoje o pessoal lê no computador. Chega em qualquer curso meio sem bagagem. Da minha experiência pessoal de palestras em escolas, não só de periferia, mas de bairros nobres aqui de São Paulo, me impressiona o número de pessoas que querem escrever. Mas aí a gente pergunta o que gosta de ler, ou o que leu, e toma um susto: ninguém lê nada. Tem alguma porcentagem dos seus alunos que chega assim, imagino que os mais jovens?

K: Não, nenhum de meus alunos tem esse perfil. Para ser meu aluno, precisa ter perfil de leitor. Na PUC, por ser um curso aberto, sim. Há alunos que não lêem nada. Aí, a minha tarefa é conquistá-los para a leitura. Às vezes, consigo.

F: Na sequência da pergunta: tem mais blogueiro ou escritor de papel?

K: Nesse momento, os blogueiros ainda são minoria. Mas a tendência é inverter, em dez anos, no máximo.

F: O que é que vocês dizem aos alunos: o papel vai acabar ou não?

K: O livro-papel? Tão cedo não, mas em algumas décadas sim. Quando me fazem essa pergunta, devolvo com uma pergunta (também fui jornalista, tenho uma filha jornalista e minha mulher é jornalista): “Quantos rolos de papiro tu tens em casa?”

F: Quem você conhece que após a experiência de oficina, escreveu um livro e o publicou? Quantos ex-alunos? Tem alguém famoso que contou, na sua formação, com oficinas desse tipo? E que assuma, sem frescura? Se for o caso, me dá os endereços?

K: Atenção, listo aí os meus alunos publicados nos últimos 5 anos, e incluo uma lista com os alunos premiados nesses últimos anos:

Publicações de alunos das oficinas de CK

(Desde 2004)

Livros individuais


ALLGAYER, Eni. A gruta assombrada. Porto Alegre: WS, 2009.

—. Mistério na selva amazônica. Porto Alegre: WS, 2009.

ANTUNES, Luciano Médici. Arqueologia reversa e outras histórias. Porto

Alegre: Nova Prova, 2006.

BOECHAT, Lúcio. Shakespeare & Cia. Porto Alegre: WS Editor, 2004.

—. Namoro entre livros. São Paulo: Atica, 2007.

BORDIN, Valmor. Voo rumo às asas. Porto Alegre, Nova Prova, 2009.

BOURSCHEID, Cleonice. Passa, passa, passarinho. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2006.

—. Ave, pássaro. Porto Alegre: Nova Prova, 2007.

—. Comadre Coruja e Compadre Gavião. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2007.

—. Ave, flor. Porto Alegre: Editora Nova Prova, 2009.

CANALES, Beto. A vida que não vivi. Rio de Janeiro, Editora Multifoco, 2009.

COSTA E FONSECA, Ana Carolina. Sei que ele me ama, pois me disse uma vez. Porto Alegre: Bestiário, 2004.

CURTIS, Marco de. O girassol na ventania. Porto Alegre: Editora Dublinense, 2009.

CRUZ, Juarez Guedes. Cronologia dos gestos. Porto Alegre: Movimento, 2004.

—. Alguns procedimentos para ocultar feridas. Porto Alegre: Movimento, 2007.

DIEL, Vitor. Granada. Porto Alegre: Armazém de Livros, 2008.

GRANDO, Diego. Desencantado carrossel. Porto Alegre: Não Editora, 2008.

GODINHO, Alpheu. Eros em decúbito. Porto Alegre, 2007.

GRINBERG, Cassio. Ela em mim. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2005.

GUAZINA, Liziane. Entre facas. Porto Alegre: Editora Nova Prova, 2009.

KLEIN, Ana. Moinhos de sangue. Porto Alegre: Mercado Aberto: 2006.

KOPPITKE, Guido. Companhia das tias. Porto Alegre: WS Editor, 2004.

MAGNABOSCO, Marile. À sombra dos pinhais. Porto Alegre: Nova Prova, 2006.

MARIANO, Ana. Olhos de cadela. Porto Alegre: LPM, 2006.

MELLO, Saul. Vestígios dela e outras histórias. Porto Alegre: Evangraf, 2008.

MESSIAS, Rudiran. Tabus, perversões & outras catarses. Porto Alegre: Nova Prova, 2005.

MORAES, Bernardo. Minimundo. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2006.

PETRY, Lívia. Flores da cor da terra. Porto Alegre: Editora Nova Prova, 2009.

PUJOL Filho, Reginaldo. Azar do personagem. Porto Alegre: Não Editora, 2007.

REVILLION, Monique. Teresa, que esperava as uvas. São Paulo: Geração Editorial, 2006.

ROBERTO, Enio. Mar quente. Porto Alegre, Editora Dublinense, 2009.

ROSP, Rodrigo. A virgem que não conhecia Picasso. Porto Alegre: Não Editora, 2007.

—. Fora de lugar. Porto Alegre: Editora Não Editora, 2009.

SAFI, Nelson G. Balas de coco e outras histórias amargas. Porto Alegre: Nova Prova, 2004.

TEIXEIRA, Carol. Verdades & Mentiras. Porto Alegre: LPM, 2006.

TEDESCO, Paulo. Quem tem medo do Tio Sam. São Paulo: Scortecci, 2004.

Coletâneas

ALLGAYER, Eny. 104 que contam. Porto Alegre: Nova Prova, 2008.

ASPIS, Abrão et all. 102 que contam. Porto Alegre: Nova Prova, 2005.

BORDIN, Valmor et all. Inventário das delicadezas. Porto Alegre: Palmarinca, 2007.

COSTA, Alexandre. 103 que contam. Porto Alegre: Nova Prova, 2006.

—. Novos contos imperdíveis. Porto Alegre: Nova Prova, 2007

FURTADO, Ademir et all. 101 que contam. Porto Alegre: Nova Prova, 2004.

—. 30 contos imperdíveis. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2006.

GOMES, Adolfo et all. Brevíssimos! Porto Alegre: Bestiário, 2005.

GODINHO, Alpheu et all. Histórias de quinta. Porto Alegre: Bestiário, 2005.

KLEIN, Ana et all. Porque hoje é sábado. Porto Alegre: Nova Prova, 2006.


Lista de alunos de Charles Kiefer premiados em concursos

2009

Emir Ross

Conto: “Mamãe trabalha à noite”, primeiro lugar no VII Prêmio Escriba de Contos 2009,

Piracicaba, SP, 2009.


Viviane Treméa

Conto: “Num porto qualquer”, terceiro lugar no VII Prêmio Escriba de Contos 2009,

Piracicaba, SP, 2009.



Roberto Canales da Trindade

Conto: “Fígados”, menção honrosa no VII Prêmio Escriba de Contos 2009,

Piracicaba, SP, 2009.



Ricardo Morales Brum

Conto: “Terminal Tietê”, escolhido para publicação na antologia do concurso do VII Prêmio Escriba de Contos 2009, Piracicaba, SP, 2009.



Leonardo Colucci

Conto: “Acerto de contas”, escolhido para publicação na antologia do concurso do VII Prêmio Escriba de Contos 2009, Piracicaba, SP, 2009.

2008

Ana Habkost

Poesia: “Vinho” terceiro lugar no II Concurso Nacional de Poesia, Fenavinho

Bento Gonçalves, RS, 2008



Ana Mariano

Conto: “Sã e salva”, selecionado para o livro do Concurso histórias do Trabalho, SMC/PMPA

Porto Alegre, RS, 2008



Ângela Ramis

Conto: “Papíes”, selecionado para o livro do Concurso histórias do Trabalho, SMC/PMPA

Porto Alegre, RS, 2008



Beatriz de Oliveira Abuchaim

Segundo lugar no 4º concurso Literário Mário Quintana – Sintrajufe-

Porto Alegre, 2008



Cíntia Rosângela

Poesia: “Abandono”, primeiro lugar no Prêmio Lila Ripoll

Porto Alegre, RS, 2008



Cíntia Rosângela

Conto: “Sob a luz do fogareiro”, selecionado para o livro do Concurso histórias do Trabalho, SMC/PMPA

Porto Alegre, RS, 2008



Carol Bensinon

Livro: Pó-de-parede

Um dos 3 finalistas do Açorianos de Literatura Categoria Conto

Porto Alegre, 2008



Diego Grando

Livro: Desencantado carrossel

Um dos 3 finalistas do Açorianos de Literatura na Categoria Poesia

Porto Alegre, 2008



Eni Allgayer

Conto: “Inocência”, primeiro lugar 4º concurso Literário Mário Quintana – Sintrajufe- Porto Alegre, 2008



Eni Allgayer

Conto: “Casa de cômodos”, menção honrosa no III Concurso Prado Veppo,

Santa Maria, RS, 2008



Eni Allgayer

Conto: “Sibila”, menção honrosa no XIII Concurso de prosa José Carlos Chiarion, Bragança Paulista, SP, 2008



Eni Allgayer

Conto: “A roseira”, menção honrosa no Concurso Literário UNIVAP – Fundação Vale do Paraíba

São José dos Campos, SP



Guido Martin Kopittke

Conto: “Procedimento padrão”, selecionado para o livro do Concurso histórias do Trabalho, SMC/PMPA

Porto Alegre, RS, 2008



Juarez Guedes Cruz

Livro: Procedimentos para ocultar feridas

Um dos 3 finalistas do Açorianos de Literatura na Categoria Contos

Porto Alegre, 2008



Karen Scopel Nunes

Conto: “O consertador de sapatos”, selecionado para o livro do Concurso histórias do Trabalho, SMC/PMPA

Porto Alegre, RS, 2008



Lívia Petry

Poesia: “Desviagem”, primeiro lugar no Concurso Literário da ULBRA

Porto Alegre, RS, 2008



Lívia Petry

Conto: “Flores da cor da terra”, segundo lugar no Concurso Literário da ULBRA

Porto Alegre, RS, 2008



Márcio Ezequiel

Conto: “Comunicado oficial”, selecionado para o livro do Concurso histórias do Trabalho, SMC/PMPA

Porto Alegre, RS, 2008



Rodrigo Rosp

Editora Não Editora

Melhor Editora do Ano do Açorianos de Literatura na Categoria Editora

Porto Alegre, 2008



Rudiran Messias

Livro: Eros em Decúbito, de Alpheu Godinho

Melhor capa do Ano do Açorianos de Literatura na Categoria Capa

Porto Alegre, 2008



Valmor Bordin

Poesia: “Balada dos pés tristes”, primeiro lugar no II Concurso Nacional de Poesia, Fenavinho

Bento Gonçalves, RS, 2008



Valmor Bordin

Conto: “Avental de mãe”, selecionado para o livro do Concurso histórias do Trabalho, SMC/PMPA

Porto Alegre, RS, 2008



2007

Eni Allgayer

Conto: Cine Independência

I Prêmio Literário Sérgio Farina

São Leopoldo - 2007



Eni Allgayer

Conto: Segredos

5º Lugar - XI Concurso Nacional de Contos – Prêmio Ignácio de Loyola Brandão

Araraquara - São Paulo - 2007



Eni Allgayer

Conto: Na solidão da mata

6. Lugar – Concurso TUPA-FADAP

São Paulo – 2007



Eni Allgayer

Conto: Fundo musical

Prêmio Talentos da Maturidade – Literatura

Banco Real

Brasília, 2007



Eni Allgayer

Conto: O encontro

9º Lugar no III Prêmio Maximiano Campos de Literatura

Pernambuco, 2007



Ana Mariano

Livro: Olhos de cadela

Um dos 3 finalistas do Açorianos de Literatura na Categoria Poesia

Porto Alegre



Bernardo Moraes

Um dos 3 finalistas do Açorianos de Literatura na Categoria Contos

Porto Alegre



Bernardo Moraes

Livro: Minimundos

Prêmio: Autor Revelação de O Sul, Nacional e os Livros

Porto Alegre





Cláudio Levitan

Um dos 3 finalistas do Açorianos de Literatura na Categoria Infanto-Juvenil

Prefeitura Municipal

Porto Alegre



César Azevedo

Poema: Musa de argila

Destaque no Prêmio Histórias de Trabalho 2007

Porto Alegre – 2007



Cristiana Amaral dos Santos

Poema: És a perfeição encarnada

Segundo Lugar no IV Concurso Expresso das Letras

Porto Alegre – 2007


Maria da Glória Jesus de Oliveira

Poema: Bilros

Destaque no Prêmio Histórias de Trabalho 2007

Prefeitura Municipal

Porto Alegre



Márcio Ezequiel

Conto:Matinê

3º Concurso Literário Mario Quintana

SINTRAJUFE

Porto Alegre, 2007



Domingos Dalabilia

Conto: Meninos morrem de medo

Categoria: Euconto.com

8. Concurso e Contos do Palco Habitasul

Porto Alegre, 2007



Luciano Mattuela

Conto: Teresa ainda olhava para o aquário

Categoria: Palavra de autor

8. Concurso e Contos do Palco Habitasul

Porto Alegre, 2007



Lívia Petry

Conto: Jules et Jim

1. lugar no Concurso Caio Fernando Abreu

Instituto de Letras da UFRGS

Porto Alegre, 2007



Rodrigo Alfonso Figueira

Conto: Cancha Reta

Menção Honrosa do Júri

XI Concurso Nacional de Contos – Prêmio Ignácio de Loyola Brandão

Araraquara - São Paulo – 2007



Aline de Oliveira

Conto: Amigos

Um dos dez selecionados no VI Concurso de Contos da Biblioteca Leverdógil de Freitas

Porto Alegre - Rio Grande do Sul – 2007



Mireme Pessoa

Poesia: Vazio

Prêmio FURS/ARGL

Rio Grande, RS.



2006

André Daniel Reinke

Conto: Só

Destaque Concurso Osman Lins de Contos

(Fundação de Cultura Cidade de Recife)

Recife, 2006



Cecília Cassal

Poema: Falta

Primeiro lugar 3º Concurso Nacional Fernando Albino da Rosa

Santa Rosa, 2006



Claudia Lopes

Conto: Mundinho

Primeiro lugar II Concurso Literário Mario Quintana

(SINTRAJUFE/RS)

Porto Alegre, 2006



Cleo de Oliveira

Livro de contos: Descontágio

Prêmio Literário Livraria Asabeça

São Paulo, 2006



Leila de Souza Teixeira

Conto: Processo desconstrutivo

Destaque Concurso Osman Lins de Contos

(Fundação de Cultura Cidade de Recife)

Recife, 2006



Leila Teixeira

Conto: Corte seco

Segundo Lugar II Concurso Literário Mário Quintana (SINTRAJUFE/RS)

Porto Alegre, 2006



Lívia Petry

Poema: Primeira Pedra

Primeiro lugar no IX Concurso de Poesia Mário Quintana (promovido pela UFRGS)

Porto Alegre, 2006



Lívia Petry

Poema: Noites Brancas

Menção Honrosa no IX Concurso de Poesia Mário Quintana (promovido pela UFRGS)

Porto Alegre, 2006



Mireme Sartori

Conto: Professora Ada

Menção honrosa no Concurso Literário Jubileu de Prata

Academia Rio-Grandina de Letras de Rio Grande, RS

Rio Grande, 2006



Márcio Ezequiel

Conto: Baixa

Destaque Concurso Histórias do Trabalho - Edição 2006

(Secretaria Municipal de Cultura)

Porto Alegre, 2006



Monique Revillion

Livro: Teresa, que esperava as uvas

Autor Revelação Prêmio O Sul, Nacional e os Livros 2006

Porto Alegre, 2006



Monique Revillion

Melhor Livro do Ano Prêmio Açorianos

Porto Alegre, 2006



Monique Revillion

Melhor Livro de Contos Prêmio Açorianos

Porto Alegre, 2006



Neli Margarida Stein

Conto: Professor?

Destaque Concurso Histórias do Trabalho

Porto Alegre, 2006



Nelson G. Safi

Conto: Paciência

Destaque 7o. Prêmio Revelacão Literaria PalcoHabitasul

Porto Alegre, 2006



Guido Koppitke

Romance: Enchentes

Finalista Prêmio Editora Record/SESC

Rio de Janeiro, 2006



Ricardo Morales Brum

Conto: Atestado de óbito

Destaque 7o. Prêmio Revelacão Literaria PalcoHabitasul

Porto Alegre, 2006



Rodrigo Alfonso Figueira

Conto: Madrugada de Abril

Destaque Concurso de Contos UNICAMP ano 40

Campinas, SP



Rodrigo Alfonso Figueira

Conto: Madrugada de abril

Destaque Concurso XVI de Contos Luiz Vilela

Ituiutaba, 2006



2005

CeciLia Cassal

Conto: Avon chama

Destaque no Concurso Histórias do Trabalho

(Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre)

Porto Alegre, 2005



CeciLia Cassal

Poema: Dote Para um Recomeço

Dstaque no Concurso Poemas no Ônibus

(Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre)

Porto Alegre, 2005



Daniela Langer

Conto: Morrente

Destaque no Concurso Osman Lins de Contos

(Prefeitura do Recife)

Recife, 2005



Emir Ross

Conto: Mamãe trabalhava à noite

Destaque Prêmio Literário João Simões Lopes Neto

Pelotas, 2005



Josimara T. Estigarribia

Poema: Devaneio de um grão de areia

Concurso Poemas no Ônibus da Secretaria Municipal da Cultura

(Destaque)

Porto Alegre, 2005



Luciano Assis Mattuella

Conto: Pássaros de Desatar Destino

Segundo Lugar no III Concurso Municipal de Contos de Niterói

Niterói, 2005



Luciano Assis Mattuella

Conto: Borboletas Amarelas

Vencedor da Categoria “Palavra de Autor”

6o. Palco Habitasul Revelação Literária

Porto Alegre, 2005



Rudiran Messias

Livro: Tabus, perversões e outras catarses

Vencedor do I Concurso Charles Kiefer de Livro de Contos

Porto Alegre, 2005



Roberto Medina

Crônica: Bipartidos

Primeiro Lugar no Concurso La Salle

Canoas, 2005



Saul Chervenski

Conto: A varanda

Primeiro Lugar no Concurso La Salle

Canoas, 2005



2004

Cecília Cassal

Poema: Excremências

Prêmio Habitasul de Revelação Literária

(Destaque na Categoria In versus)

Porto Alegre, 2004



CeciLia Cassal

Poema: Margaridas

Destaque no Concurso Poemas no Ônibus

(Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre)

Porto Alegre, 2004



Luciano Assis Mattuella

Poema: Tempestade

Destaque do 5o. Palco Habitasul

Porto Alegre, 2004



Marcos Gerhardt Lindenmayer

Conto: Na noite fria

Destaque no XIII Concurso de Contos Luiz Vilela

Ituiutaba, Minas Gerais, 2004



Juarez Guedes Cruz

Livro: A cronologia dos gestos

Prêmio Açorianos de Literatura – Categoria contos

Porto Alegre, 2004



Alpheu Ney Godinho

Conto: Batismo

Destaque no 13 Concurso de Contos Luiz Vilela

Ituiutaba, Minas Gerais, 2004



Rudiran Messias

Conto: Lembranças à Beira-mar

Segundo lugar no I Prêmio Literário A Gazeta

Campo Bom, 2004



Rudiran Messias

Conto: Música Techno

Destaque no I Prêmio Literário A Gazeta

Campo Bom, 2004



2003

Alpheu Godinho

Conto: Sombras

Destaque no Concurso Histórias do Trabalho

(Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre)

Porto Alegre, 2003



Alpheu Godinho

Conto: Batismo

Destaque no 13º Concurso de Contos Luiz Vilela

(Fundação Cultural de Ituiutaba)

Ituiutaba, MG, 2003



Alpheu Godinho

Conto: Respingos de sangue

Destaque no Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio.

(Secretaria de Estado da Cultura do Paraná)

Curitiba, 2003



CeciLia Cassal

Poemas: Memórias da Pele e Não Gosto

Destaque no Concurso Poemas no Ônibus

(Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre)

Porto Alegre, 2003



Luciano Assis Mattuella

Conto: Homem Apenas Alma

Menção Honrosa

(Concurso Literário do Governo do Paraná)

Curitiba, 2003



Monique Revillion

Livro: Teresa, que esperava as uvas

Finalista do Prêmio Casa de Cultura Mário Quintana

Porto Alegre, 2003



Nelson G. Safi

Conto: Depoimento

4° Prêmio Revelação Literária PalcoHabitasul

(Destaque na Categoria Eu.conto.com.)

Porto Alegre, 2003



Nelson G. Safi

Conto: A cabeça de Ramiro Vargas

4° Prêmio Revelação Literária PalcoHabitasul

(Destaque na Categoria Palavra do Autor)

Porto Alegre, 2003


F: É verdade que há muitos executivos procurando escrever melhor? Que milagre é esse?

K: Sim, muitos. É que eles perceberam que escrever melhor é pensar melhor, é saber dominar mais a si mesmos e a realidade.

F: Bem, preciso de dados gerais sobre a oficina, custo do curso, duração, essas coisas. Nas matérias da revista sai um serviço muito bem feito, em geral.

K: Os custos variam de 250 reais a 400 reais por mês, a depender do número de alunos em sala de aula. Os valores da PUC eu não sei. Duração: ilimitada. Os alunos desistentes são substituídos por alunos de mesmo nível. Faço uma seleção rigorosa. Transfiro alunos de uma turma à outra, conforme os perfis. Desmancho grupos que não funcionam, mesmo lotados de alunos. Isso gera um certo estresse, mas quem entra para o meu time já sabe: o método é obstinado, rigoroso. Não vendo ilusões. Meus alunos estudam do Aristóteles às modernas teorias literárias. Quando ingressam, são convidados a ler minha tese de doutorado A poética do conto, Editora Nova Prova. Para que não reclamem de venda casada, dou a obra de presente na matrícula.

F:: Preciso também de sua minibiografia (por causa do curto espaço, naturalmente).

K: Charles Kiefer é autor de mais de 30 livros, de ficção, poesia, ensaios. Publicado no Brasil, na França e em Portugal, já vendeu mais de 350 mil exemplares de seus livros. Tem peça de teatro que já foi encenada no Brasil, França, Suíça, Polônia, Itália e outros países. Walmor Chagas representou no cinema um de seus personagens mais fortes, no filme Valsa para Bruno Stein. É professor da PUC. Tem mestrado em Literatura Brasileira e Doutorado em Teoria da Literatura. É feliz, pois vive do que mais gosta de fazer: ensinar e escrever. Pai de duas filhas, Maíra e Sofia, suas obras-primas.

F: Se quiser dizer mais alguma coisa, por favor, não se acanhe. Há pérolas que a gente, digo, nós, jornalistas, nem suspeitamos que existam, só o entrevistado sabe.

K: Gostaria de referir ainda 3 coisas:

1. O Prêmio Sofia. Neste ano, um de meus alunos ganhará 3 mil reais pelo melhor livro publicado em 2009. A entrega será feita em 22 de março de 2010. Fazem parte do júri Luiz Antonio de Assis Brasil, Regina Zilberman e Carlos André Moreira. O prêmio é um fomento à qualificação da produção de meus próprios alunos. Só concorre que foi ou é aluno das oficinas literárias CK.

2. A publicação, em 08 de março, da antologia Outra mulheres. Há onze anos, publiquei O livro das mulheres, que trazia contos de jovens autoras como Letícia Wierchowski, Martha Medeiros, Cínthia Moscovith, Adriana Lunardi, entre outras. A nova antologia traz Ana Mariano, Monique Revillion, Eni Allgayer, Cristina Moreira, Daniela Langer, Leila Teixeira, Lívia Petry, entre outras. O livro é o resultado de um concurso entre as centenas de mulheres que já passaram pelas minhas oficinas. Tenho certeza que algumas delas virão a ser as novas damas da moderna literatura brasileira contemporânea.

3. Gostaria de convidar os leitores da revista a visitarem: http://charleskiefer.blogspot.com (onde publico textos teóricos sobre oficinas etc); http://gosteimuito.blogspot.com (onde publico contos de alunos meus e escritores amigos); http://fortunacriticadecharleskiefer.blogspot.com (onde se encontram textos (blog ainda em construção) a respeito dos meus livros); http://ficcionesck.blogspot.com (onde publico contos meus traduzidos para o espanhol, blog ainda em construção); http://oficinaliterariacharleskiefer.blogspot.com (onde publico informações sobre as atividades da empresa, cursos, concursos etc).

terça-feira, 6 de abril de 2010

O exemplo que vem de São Paulo

Recebi, de Regina Zilberman, o texto que reproduzo abaixo, escrito por Franco Lajolo, ex-vice-reitor da USP. Vale a pena ler e aplaudir, e repetir aqui, no RS, programas deste tipo. Quem é meu aluno na PUC, sabe: sempre dou livros de presente, a todos da chamada. Custa-me caro, pois pago do próprio bolso. Tem gente que paga dízimo, eu pago livros. Que outros façam o mesmo, e que as instituições brasileiras sigam o exemplo da Universidade de São Paulo. (CK)


BOLSA LIVRO: A UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INVESTE NA LEITURA DE SEUS ALUNOS

A escola brasileira está em pauta.

A cultura da avaliação, em boa hora implantada nos diferentes níveis do ensino, no que se refere ao ensino fundamental, tem dado oportunidade a que de norte a sul, diferentes vozes se façam ouvir na esteira dos irrefutáveis e sombrios diagnósticos da educação brasileira. Diagnósticos tanto mais sombrios quando, recentemente, prova de avaliação de docentes da rede pública paulista mostrou o grande despreparo de fração significativa do magistério.

Sem professores competentes, não há ensino competente.

Face ao descalabro, não faltam nem propostas nem acusações. Se as primeiras são tímidas, as últimas costumam ser espalhafatosas. Dentre as propostas, as mais alvissareiras são as que divulgam iniciativas e projetos que, por terem a aval de instituições que gozam de credibilidade podem inspirar réplicas .

É neste contexto que ganha vulto uma iniciativa da Universidade de São Paulo que, fiel a seu projeto de aliar equidade e competência em seus projetos sociais, como o de permanência dos alunos, inclui, no orçamento para 2010 , uma bolsa livro.

A iniciativa inspira-se na crença de que a sala de aula e a voz do professor não constituem o único espaço nem o único instrumento de aprendizado. Tampouco apenas laboratórios e computadores. O conhecimento, é verdade, circula por vários caminhos, mas circula sobretudo pelas linhas e entrelinhas dos livros. E da mesma forma que a universidade se preocupa com alojamento e alimentação de seus estudantes mais carentes, é preciso que ela também lhes faculte um trânsito mais desenvolto pela cultura letrada.

Pois, se a fragilidade das práticas de leitura estão na base da precariedade dos resultados conseguidos pela escola brasileira – desde sua base – uma ação no patamar mais alto do sistema educacional pode qualificar o cenário dos patamares intermediários. Sobretudo na área de humanas – cujos egressos em boa parte habilitam-se para o magistério- a leitura é fundamental, e não apenas a leitura de livros didáticos, técnicos e especializados.

Se a bibliografia básica de cada área é obrigação da universidade providenciar – e o sistema de Bibliotecas da USP é zeloso nesta função- a bolsa-livro tem por horizonte a formação de leitores, de jovens leitores apaixonados pela leitura, que não vêem fronteiras entre os gêneros, e que já sabem ou que vão aprender que têm nos livros parceiros indispensáveis para a grande aventura do conhecimento em nome da qual chegaram à nossa universidade.

É exatamente para isto que a bolsa-livro existe.

Serão, neste primeiro ano, quinhentas bolsas: 10 parcelas de 120,00 reais – totalizando 1200,00 reais ano para cada aluno contemplado. Para ele comprar livros. Para ele começar ou ampliar sua biblioteca. Mas não é apenas da perspectiva do leitor que este projeto é importante: do ponto de vista econômico, esta iniciativa da Universidade de São Paulo representa também uma injeção de R$ 600.000,00 anuais no mercado livreiro.

Cifra nada desprezível e que pode e deve esperar uma contrapartida, como por exemplo a de venda de livros mais baratos para os estudantes beneficiados com esta bolsa. Particularmente as editoras universitárias – a exemplo do que a EDUSP já planeja – são parceiras naturais deste projeto. E, na esteira delas, com certeza a Câmara Brasileira do Livro será também interlocutora privilegiada nas propostas e alternativas para sua implementação.

Neste ano em que o mundo brasileiro dos livros e dos leitores foi tão duramente atingido pela morte de José Mindlin, a iniciativa desta bolsa-livro é um preito de saudade, que evoca a figura alegre e generosa do intelectual que sempre se considerou depositário dos livros de sua fantástica biblioteca, parte da qual, em breve estará na Cidade Universitária .

Dar o nome de José Mindlin a esta bolsa pode ser o gesto de reconhecimento e homenagem de nossa universidade a seu grande amigo, que se fará presente cada vez que um livro, tornado acessível através desta bolsa, faça um jovem sorrir de felicidade: afinal, o ex-libris de José Mindlin rezava: je ne fais rien sans gaieté .

Franco Lajolo (foi Vice-Reitor da USP de março de 2006 a março de 2009).

fmlajolo@usp.br

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Um bom porto, um bom fim

Uma cidade, um bairro, uma rua, um desvão de escada não são feitos apenas de cimento e vidro, praças e casas, árvores e asfalto, degraus e quinquilharias, mas também, e principalmente, de lembranças, desejos e ilusões. As coisas vivem num deplorável estado de coisas. Somos nós que lhes damos a alegria do sentido. Uma cidade, um bairro, uma rua, um desvão de escada podem alcançar, pelo nosso olhar, pelo nosso sentir, a transcendência que têm um figo maduro, um colibri assustado, uma criança ferida. E as coisas  transcendidas podem nos ajudar a viver com mais serenidade, com maior ternura e humanidade.

Vivo na fronteira dos bairros Independência e Bom Fim, mas a minha tendência, em tudo, e sempre, é descer a lomba, pela Miguel Tostes ou outra rua qualquer. De manhã, ministro oficinas na Livraria Palavraria, na Vasco da Gama. Marta e Sofia são assíduas freqüentadoras da Espaço Vídeo, e eu me abasteço de pão camponês e de croissants nesse cantinho de Paris que é Bolangerie Carina Barlett. Apaixonado por frutas, percorro o bairro atrás de cajus, araticuns, romãs, carambolas e outros exotismos da flora nordestina, amazônica e chilena.

Quando cheguei aqui em Porto Alegre, em 1982, não tinha dinheiro para alugar um apartamento num bairro de classe média, mas fui generosamente convidado a morar com o professor Mario Arnaud Sampaio e sua esposa, Zelia Dendena, na Felipe Camarão. Lá fiquei por dois meses, “fazendo caixa”. Ia ao trabalho, na Editora Mercado Aberto, na zona norte, a pé, todos os dias de madrugada, para economizar com passagens.

Um dia, diante de meu ar deprimido, Roque Jacoby, meu empregador, perguntou-me à queima-roupa:

– O que tu tens, guri?

– Saudade – eu respondi.

E assim, auxiliado por ele – que além de me dar um bom empréstimo, que paguei em muitas parcelas, sem juros, e servir-me de fiador –, aluguei um apartamento na Avenida São Pedro com Bahia. Eu trouxe a família de Três de Maio e comecei a minha vida profissional na “mui valerosa” capital. “Valerosos” foram Sampaio e Jacoby, que me estenderam a mão. Sem eles, meu fim seria o retorno à terra natal, ou a partida em busca de outra terra.

Nunca esqueci as ladeiras do Bom Fim, as velhas árvores, o ar de bairro europeu. Marta, que me deu Sofia, conseguiu um apartamento na fronteira do bairro e nos mudamos para cá, há oito anos. Ela, que não se permite raízes, quer partir; eu quero ficar. Camponeses são poços. É mais fácil transferir um bairro que um poço. No que me cabe, o Bom Fim é uma terra amigável onde claudicar os passos, um lugar tranqüilo onde descansar os ossos. Só me arranca daqui o Caronte, com sua barca inevitável.

domingo, 4 de abril de 2010

Segunda chance

Dá a outro o livro que não queres
porque ele antes não te quis.

Os livros, às vezes, erram de estante
como nós erramos o caminho.