sexta-feira, 11 de setembro de 2009

De diamantes esquecidos (e escondidos)

De diamantes esquecidos

Postei hoje (em http://gosteimuito.blogspot.com) um pequeno conto chamado “Sumô”, de Carlos Stein. Se eu fosse mineiro, estaria agora num saloon, festejando esse achado, um verdadeiro diamante esquecido da literatura brasileira!

Carlos Stein fez parte dos Nove do Sul, a famosa antologia de contos que revelou o talento de Caio Fernando Abreu, Moacyr Scliar, Josué Guimarães, Tânia Jamardo Faillace, Lara de Lemos, Sergio Jockymann e Ruy Carlos Ostermann. Lá, ainda estavam Cândido de Campos e Sergio Ortiz Porto, também desaparecidos (para a literatura, mas não para a história).

Por estes estranhos motivos e caminhos da vida de escritor, depois de um começo brilhante, Carlos Stein calou. E calado ficou por 40 anos. Em 1970, publicou um livro de contos que anunciava um grande escritor, Maurina. E, então, calou. Não tivesse parado de escrever por 40 anos, Carlos Stein estaria hoje, certamente, entre os grandes escritores brasileiros.

Há um ano, procurou-me. Queria freqüentar minhas aulas de oficina literária. Mas me pediu uma coisa difícil de compreender e mais difícil de cumprir. Que eu não fizesse menção ao seu passado, não revelasse a ninguém quem ele era, literariamente falando. Queria ser apenas um aprendiz entre aprendizes. Respeitei a sua vontade.

Mas nesta semana, depois de muita espera e indecisão, levei Maurina comigo, numa edição que guardo, a edição princeps. Levei-a e pensei: “Se der, peço autógrafo. Brabo comigo ele não há de ficar”.

Aproximei-me dele no balcão do barzinho e disse-lhe: “Tenho um pedido pra te fazer: autografa pra mim” e estendi-lhe o velho exemplar. Enquanto ele rabiscava o autógrafo, senti o brilho em seus olhos, senti renascer nele o “autor”, e pedi-lhe autorização para revelar, em aula, quem ele era.

E o escritor, que nunca morre, que nunca desiste, topou!

E (estranhas coincidências que sempre me acontecem) justo neste dia ele trouxera, para apresentar em aula, a reescritura de um conto seu, que faz parte de Maurina, o delicado e triste “Sumô”.

Depois da leitura e do silêncio respeitoso, pedi-lhe ainda que me permitisse postá-lo no http://gosteimuito.blogspot.com

Topou!

E mais, aceitou a minha sugestão de reescrever todos os contos, para relançarmos, com festa e champanhe, uma reedição de Maurina, depois de 40 anos.

Topou!

Se eu fosse mineiro, depois de achar uma pepita deste tamanho, não devia estar num saloon, comemorando?

6 comentários:

  1. Que história linda! É tão gratificante a gente poder tirar o chapéu pra quem merece, não é? Poder dizer: "ainda que ninguém saiba, que ninguém tenha reparado, valorizado, eu, este modesto eu aqui, meu caro, te aplaudo!"

    Vou lá ler Sumô, agora mesmo.

    abç

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  2. Adorei o Conto do Carlos, com uma linguagem fluída de Mestre, onde passa ao leitor o estado emocional do pequeno lutador, da platéia e acabamos assistindo ao espetáculo. Cria uma empatia com o menino que consegue se levantar, retornar ao círculo e buscar consolo no colo da mãe. O que o menino não sabia é que o pai estava na sua pele, o que originou este grande Conto. Parabens Carlos!Parabens Professor pela redescoberta!
    Abraços.
    Sandra

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  3. Caro Carlos Stein:

    Esse menino perdedor ilustrado em seu conto certamente aprendeu a licao e dela tirou forcas para voltar a escrever, longos e talvez angustiantes 40 anos apos...Somente uma derradeira frase: - nunca mais deixe de expor ao mundo os seus dotes natos, pois como bem escreveram os que me antecederam nas mensagens, todos perdem com a sua nao expressao artistica.

    Seu maior/menor fa.

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  4. Sensacional ! Bem articulado !!!

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  5. Linda essa parte da história. Tomara que continue.

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