Nas oficinas literárias, às vezes, alguns participantes apegam-se a detalhes como a pontuação, as inadequações semânticas e sintáticas, as referências espaciais e temporais, e propõem um verdadeiro napalm corretivo.
Para matar um inseto, devastam uma floresta inteira, no afã de tornar o texto “mais universal”.
Como se o que fizesse a universalidade de uma obra fosse a pasteurização vocabular, a homogeneização estilística e a ausência de traços regionais.
São alunos que ainda não compreenderam as relações sociais, políticas e econômicas que constituem a malha do discurso e do sentido.
Açodados pela ansiedade de mostrar um novo texto, preferem patinar sobre o mesmo, apontar o óbvio, e produzir toneladas de material que receberá da história futura uma não tão generosa recepção quanto a de seus colegas de turma.
A estes, urge a leitura de Bakhtin, de Saussure, de Ducrot, de Benveniste, de Greimas, de Jakobson, de Charaudeau, de Authier-Revuz, de Bally, e, por que não dizer, de Sartre.
Mas, com freqüência, e não por acaso, são esses mesmos alunos os que resistem às necessárias paradas teóricas. Por eles, as aulas seriam compostas somente de leitura e de discussão dos textos produzidos pelos próprios discentes.
Por outro lado, só avanço quando percebo que a maioria dos alunos está pronta a acompanhar os não tão simples raciocínios da teoria da literatura.
O texto de qualidade é espesso, opaco e plurivocal. Muitas vezes, a poda excessiva decepa bulbos incipientes, mas que poderiam desenvolver-se e gerar ramos frondosos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Perfeito, perfeito. Acabas de escrever o primeiro e talvez mais importante item do "Decálogo do bom oficineiro".
ResponderExcluirCharles, sabes que sempre tive essa idéia: associar leituras teóricas à minha modesta produção na oficina, além da minha ojeriza à tal pasteurização que tu referiste. Me alegra muito ter lido este teu comentário. É um grande incentivo.
ResponderExcluirGostei, Charles. Gostei mesmo.
ResponderExcluir