domingo, 26 de junho de 2011

O sangue e o plasma da significação

Uma das minhas tentativas mais persistentes e mais difíceis é a de ensinar aos meus alunos de nível avançado, àqueles que permanecem comigo por lustros e décadas (tenho alunos que frequentam as minhas oficinas há mais de 15 anos), que os símbolos e as alegorias são o sangue e o plasma da significação. Quem lê somente os signos linguísticos não lê nada. E, às vezes, deslê.

Um bom espaço para se treinar esse olhar decodificador, olhar capaz de ler à contraluz, é a mídia impressa.

Tomemos um caso, a saber, no Jornal O Sul, edição de 25 de junho de 2011.

À página 8 do Caderno Reportagem, vemos uma foto linda, em que Tony Blair sorri para o filho Leo, que está em seu colo. O texto conta uma história estranha.

Na festa de aniversário de 11 anos, o menino teria cobrado 11,3 euros de cada coleguinha pela participação na festa.

Um menino multimilionário, que recebe os colegas e amigos na mansão da família, cujo pai cobra fortunas por consultorias, precisa cobrar 11,3 euros? E por que esse preciosismo? Por que não 10 euros, para facilitar o troco? Ou 12?

Jornalistas ingênuos, e leitores comuns, de poucas luzes, como os chamo, que não conhecem a linguagem simbólica dos muitos esoterismos, atêm-se à curiosidade do episódio, ao insólito da festa, e perdem o essencial, enrodilhado não no plot, mas na equação numérica da cobrança. Papai Blair, que é membro de conhecida sociedade secreta, declara, através do filho, o seu grau de importância: 11 x 3 = 33. Grau 33, se alguém ainda tinha dúvidas. E como toda ação esotérica precisa ser dupla, Blair manda um recado aos seus pares, através da "insólita" festinha do rebento: 11 e 3.

Página 11, parágrafo 3? 11 horas e 30 minutos? Latitude 11 e longitude 3? Artigo 11 e inciso 3?

Quem sabe, sabe. Quem tem a chave, decifra. Não foi sempre assim, decifra-me ou te devoro? Quem não sabe é boi de piranha, massa de manobra, inocente últi.

Se o persongaem e o enredo são a matéria de uma história, o símbolo e a alegoria são a sua energia. Sempre é bom lembrar que energia é matéria acelerada à velocidade da luz ao quadrado. Quem não compreende essa simples equação da teoria da relatividade, cai no truísmo de imaginar que não existam temas significativos.

Uma história só será significativa se funcionar como funcionam as mensagens esotéricas: para os tolos e ingênuos, 11,3 euros são só o preço do ingresso na festinha. No outro nível, lá onde a verdadeira significação se constitui, 11,3 euros são uma sofisticada, simbólica e irônica mensagem.

O bom escritor, como o bom esotérico, escreve para os dois grupos de leitores.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Doação

Ninguém é tão pobre, nem deveria ser tão mesquinho, que não pudesse doar alguma coisa a alguém necessitado.

Nem o morto está morto para a doação.

Já sem livre-arbítrio, o morto não pode negar-se à doação.

É forçado a desfazer-se da família, dos amigos, das posses. É forçado a doar o seu sangue, as suas carnes e os seus ossos aos vermes da terra.

Doar é participar alegremente da inexcusável essência do Ein Sof, a Luz Infinita.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A quietude do Sol

O Sol, meus caros leitores, anda cansado e vai entrar num período de quietude. Por algum tempo, talvez por décadas, aquelas manchas solares vão desaparecer. Desde 1645, os astrônomos as acompanham. No século XVII, as manchas sumiram por 70 anos. E sabem o que aconteceu aqui embaixo, no planetinha Terra? A glaciação levou a Europa à fome, pois o solo ficou tão congelado que os arados e as enxadas se quebravam...

Em 2015, o Sol não terá mais aquelas manchas que tanto intrigaram a Galileu Galilei. Hoje, o SOHO faz essa pesquisa diariamente. Sou desses astrônomos amadores que acompanham a atividade solar comodamente em casa, ao computador.

O Ciclo da Cornucópia, como costumo denominar esse período de calor da Revolução Industrial, está chegando ao fim. Uma nova glaciação vem por aí. Baseio-me, principalmente, na mitologia, para irritação profunda daqueles que se julgam cientistas. Cientista, meu caro, cientista verdadeiro não despreza nenhuma variável. O conhecimento astronômico dos antigos ombreava com os nossos telescópios e modelos matemáticos computadorizados. Com a compreensão profunda dos fenômenos naturais, sem separar as partes do todo, eles foram capazes de prever o futuro que nos esperava. Infelizmente para nós, o futuro deles é o nosso presente.

Repito: não é por acaso que os Maias falavam em Baktun. 21 de dezembro de 2012 é data de fechamento de mais um ciclo. Quem inventou que os maias teriam previsto o fim do mundo para essa data é um idiota. Além da desinformação, é um desrespeito com a sabedoria astronômica desse povo. O que nós ainda não sabemos é por que eles, em massa, abandonavam as suas grandes e poderosas cidades nas proximidades dos fechamentos dos baktuns.

Aproveitem os verões dos próximos 4 anos. De preferência, viajando para as montanhas, E, para 2015 em diante, façam uma boa provisão de livros, porque lá fora vai fazer frio de ranguear cusco, como dizemos nós, os gaudérios. Leitura, em tempos de glaciação, é uma boa pedida.