terça-feira, 29 de setembro de 2009

Eu assino o que escrevo

Este texto encontra-se agora em Para ser escritor, Editora Leya, 2010.

domingo, 27 de setembro de 2009

Questões táticas e estratégicas do Acordo Ortográfico

Este texto encontra-se agora em Para ser escritor, Editora Leya, 2010.

domingo, 20 de setembro de 2009

Labaredas na política gaúcha

(Publiquei hoje, no Jornal O Estado de São Paulo, o artigo que transcrevo abaixo):


A grande fotografia é aquela capaz de aprisionar um instante significativo e sintetizar num único quadro a história e suas contradições. E o grande fotógrafo, às vezes, é aquele que esteve com a câmera apontada exatamente para este ponto único no espaço onde o símbolo de um momento se condensa.

Nesta semana, em que principiamos os festejos de uma guerra que perdemos, e da qual estranhamente nos orgulhamos, ao acender a pira da “chama crioula”, este fogo que representa aqui a Revolução Farroupilha, a governadora Yeda Crusius viu-se envolta em chamas, e livrou-se por pouco de um grave acidente. Um escapamento de gás quase transformou a comemoração de uma tragédia noutra tragédia, sob as lentes de Daniel Marenco, o fotógrafo.

Diante das tantas situações estranhas, exóticas e inusitadas que envolvem a figura de nossa mandatária nos quedamos “pasmados”, como diria o Fernando Pessoa. Ou há, no estado, um gigantesco complô contra ela, capitaneado por “forças ocultas”, ou há nela uma gigantesca “força oculta” que faz com que atraia sobre si a fúria dos elementos (e nem só da oposição, pois os primeiros tiros vieram de trincheira amiga, de seu próprio vice-governador).

Mais que chamas, um mar de suspeitas nos assombra.

Nem bem nos recuperamos de outras fotos patéticas (ela carregada nos braços de um oficial da BM, depois que um palanque desabou; ela aprisionada na própria mansão, fotografada como que detrás das grades de uma prisão) e somos surpreendidos com mais esta pérola, ela sendo imolada simbolicamente pelas chamas, como que vítima de um sacrifício ritual. Um de seus mais fiéis defensores, e deputado, num instante de perplexidade, exclamou que a governadora devia ter atirado pedra na cruz!

Já não temos palavras e as fotos valem por mil, como se dizia antigamente.

A foto desta semana é, em si mesma, um retrato do clima incendiário que estamos vivendo já há vários meses, desde que surgiram suspeitas de envolvimento de altas lideranças políticas num esquema fraudulento que desviou 44 milhões de reais do Detran. Recentemente, acossado pelas chamas, o presidente do Tribunal de Contas afastou-se do cargo, para tratar da saúde. Há mais tempo, um alto servidor perdeu toda a saúde no lago Paranoá, e não sabemos ainda, conclusivamente, se foi por “morte morrida” ou por “morte matada”, como se dizia nos idos de nossa “gloriosa” república dos farrapos.

As labaredas da Operação Rodin já chamuscaram e destruíram a reputação de dezenas de pessoas, queimaram secretários, assessores, servidores, e estão levando o estado a uma situação patética, acirrando ainda mais o já natural clima de confronto que nos divide, raivosamente, em gremistas e colorados, governistas e oposicionistas, como já nos dividiu, no passado, em pica-paus e maragatos, assisistas e borgistas, monarquistas e republicanos.

O atual governo esteve envolto em chamas desde o seu começo. E, com o passar do tempo, muito combustível foi jogado na fogueira. Aqui, aliás, a política, desde sempre, é feita a ferro e fogo. Começamos com os bandeirantes, expulsando a fogo de bacamarte os religiosos espanhóis das reduções guaraníticas, passamos pelos incêndios das fazendas e das degolas (nas revoluções de 1893 e 1923), atravessamos o país com Getúlio Vargas armado até os dentes, nos entrincheiramos com Brizola no Palácio Piratini em 1961, tocamos as trombetas da guerra quando Olívio Dutra chegou ao poder, e agora, diante das suspeitas de corrupção, não damos trégua à primeira mulher que nos governa. A começar por Paulo Feijó, que ainda na campanha eleitoral, desentendeu-se com a então candidata. Se hoje as chamas chamuscam os cabelos da primeira dama, o primeiro incendiário foi o vice-governador. Sem buscar consenso, fazendo política com arrogância e mão de ferro, desprezando os próprios aliados, oxigenando os conflitos com confrontos, a governadora semeou ventos e hoje colhe tempestades, inclusive de fogo.

Enquanto o gás explodia diante da governadora em grandes labaredas na pira simbólica de nossa guerra perdida, na Assembléia Legislativa outra guerra se declarava - a de seu impedimento por improbidade administrativa. Essa guerra que a oposição comanda repetirá os feitos de nossos guerreiros farrapos: serão energia e tempo perdidos, pois a base aliada já decidiu pela absolvição, por pragmatismo, independentemente dos indícios ou das provas, se surgirem. Se a governadora fosse afastada do cargo, assumiria Paulo Feijó, o terror dos pampas, o homem que gravou o subordinado que tentava explicar-lhe o funcionamento da realpolitik. De Bismarck, Paulo Feijó não tem nada. Se é difícil com Yeda, com Paulo seria pior, ponderam os velhos sábios da política. E se esse não pudesse assumir, por este ou aquele motivo, o cargo cairia no colo de Ivar Pavan, o presidente da Assembléia Legislativa, que é petista, o que pavimentaria o caminho para Tarso Genro.

Se a governadora for, realmente, inocente de todas as acusações que lhe impingem, se o Ministério Público Federal se equivocou ao incluí-la no processo que encaminhou à Justiça Federal de Santa Maria, estamos realizando aqui a maior e mais vil injustiça de todos os tempos. Se assim for, o futuro nos acusará de termos feito o seu linchamento pelo simples fato dela ter sido uma mulher forte e determinada, capaz de mexer em feudos corporativos, e também por ter sido “estrangeira”, mais precisamente paulista.

Neste dia, então, é bom que se apague, definitivamente, a tal de “chama crioula”, e que se acenda outra, a “chama da nossa vergonha”, diante da qual deveremos nos persignar e orar à Santa Mártir que nos governou.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

De diamantes esquecidos (e escondidos)

De diamantes esquecidos

Postei hoje (em http://gosteimuito.blogspot.com) um pequeno conto chamado “Sumô”, de Carlos Stein. Se eu fosse mineiro, estaria agora num saloon, festejando esse achado, um verdadeiro diamante esquecido da literatura brasileira!

Carlos Stein fez parte dos Nove do Sul, a famosa antologia de contos que revelou o talento de Caio Fernando Abreu, Moacyr Scliar, Josué Guimarães, Tânia Jamardo Faillace, Lara de Lemos, Sergio Jockymann e Ruy Carlos Ostermann. Lá, ainda estavam Cândido de Campos e Sergio Ortiz Porto, também desaparecidos (para a literatura, mas não para a história).

Por estes estranhos motivos e caminhos da vida de escritor, depois de um começo brilhante, Carlos Stein calou. E calado ficou por 40 anos. Em 1970, publicou um livro de contos que anunciava um grande escritor, Maurina. E, então, calou. Não tivesse parado de escrever por 40 anos, Carlos Stein estaria hoje, certamente, entre os grandes escritores brasileiros.

Há um ano, procurou-me. Queria freqüentar minhas aulas de oficina literária. Mas me pediu uma coisa difícil de compreender e mais difícil de cumprir. Que eu não fizesse menção ao seu passado, não revelasse a ninguém quem ele era, literariamente falando. Queria ser apenas um aprendiz entre aprendizes. Respeitei a sua vontade.

Mas nesta semana, depois de muita espera e indecisão, levei Maurina comigo, numa edição que guardo, a edição princeps. Levei-a e pensei: “Se der, peço autógrafo. Brabo comigo ele não há de ficar”.

Aproximei-me dele no balcão do barzinho e disse-lhe: “Tenho um pedido pra te fazer: autografa pra mim” e estendi-lhe o velho exemplar. Enquanto ele rabiscava o autógrafo, senti o brilho em seus olhos, senti renascer nele o “autor”, e pedi-lhe autorização para revelar, em aula, quem ele era.

E o escritor, que nunca morre, que nunca desiste, topou!

E (estranhas coincidências que sempre me acontecem) justo neste dia ele trouxera, para apresentar em aula, a reescritura de um conto seu, que faz parte de Maurina, o delicado e triste “Sumô”.

Depois da leitura e do silêncio respeitoso, pedi-lhe ainda que me permitisse postá-lo no http://gosteimuito.blogspot.com

Topou!

E mais, aceitou a minha sugestão de reescrever todos os contos, para relançarmos, com festa e champanhe, uma reedição de Maurina, depois de 40 anos.

Topou!

Se eu fosse mineiro, depois de achar uma pepita deste tamanho, não devia estar num saloon, comemorando?

domingo, 6 de setembro de 2009

A nova edição de Os Ossos da Noiva

Acabo de revisar a nova edição, a quarta, de Os ossos da noiva, que sairá na Feira do Livro de Porto Alegre deste ano, publicado pelo selo Amarylis, da Editora Manole.

É uma edição requintada, com ilustrações (de Hélio de Almeida) que são verdadeiras filigranas. O pintor captou a essência do livro e da história. Se fosse pintora, Circe Brechen, a protagonista, faria desenhos desse naipe, e com essa delizadeza.

Vivo um momento raro e ímpar na vida de qualquer escritor. Ainda em vida, vejo a reedição de todos os meus livros. Poder retomar as antigas histórias, revisá-las, reescrevê-las, se necessário, é uma experiência muito interessante.

Não mexi nesta novela, exceto uma ou outra correção lexical ou semântica. Seria arrogância, e inciência, chamar a este livro de romance. Minha novela, depois de treze anos de sua publicação, resistiu, tanto na forma quanto no conteúdo. E isto dá uma sensação boa, de aceitável orgulho: fiz um bom livro, apesar da idade.

Dizem alguns críticos e teóricos que somente se escreve bem depois dos cinquenta, depois de se atingir a muturidade. Escrevi Os ossos da noiva aos 34, 35 anos.

Um dia, num pequeno restaurante da avenida Cristóvão Colombo, na zona norte de Porto Alegre, onde eu costumava almoçar, fiz amizade com um casal de Santo Ângelo. Ela, uma loira exugebrante; ele, um negro alto e sorridente. Haviam abandonado a sua terra natal por causa do preconceito.

No dia em que os conheci, estava à mesa do bar escrevendo um dos capítulos de Os ossos da noiva.

Sou fascinado por coincidências. Assim, não me acanhei. Apresentei-me, disse-lhes o que escrevia, uma triste e trágica história de amor entre uma branca e um negro.

Ainda nos encontramos algumas vezes, no Bar do Alemãozinho. E eles sempre me perguntavam sobre o andamento do livro. Depois, quando o lancei, na Feira de 96, compareceram à sessão de autógrafos.

Nunca mais os vi. Minha memória não lhes reteve os nomes.

Se, por estas injunções do destino, algum deles estiver lendo estas linhas, faço-lhe um pedido. Faz contato (charleskiefer@uol.com.br). Quero lhes dar um exemplar da nova edição, autografado.